terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aerosmith - Parte IV



Com um contrato milionário, o grupo volta a Columbia e passa por um período turbulento, com várias trocas por trás dos bastidores, e com Kramer sofrendo de depressão, chegando a ser substituído temporariamente por Steve Ferrone. 

Capa original de Nine Lives

Nesse turbilhão de problemas, registram Nine Lives, lançado em 1997 e com a produção de Kevin Shirley. O disco começa lá em cima, com a sensacional faixa-título, e possui momentos magníficos, como as pancadas "Crash" e "Something's Gotta Give",  o hardzão animalesco tendo a harmônica em destaque, e a pesada "Attitude Adjustment". A ótima "Taste Of India", utilizando o instrumento  sarangi, a cargo de Ramesh Mishra, e cordas misturados a muito peso, é fácil a melhor do disco. 

Nine Lives é marcado por mais alguns sucessos: "Falling in Love (Is Hard On The Knees)", embalada pelos metais arranjados por Tyler junto a David Campbell (músicos não citados); o rock grudento de "Pink", outra composição ao lado de Supa; a balada "Hole In My Soul", com um interessante arranjo de cordas por Elliot Scheiner. O álbum peca em ser um pouco longo, algo que era praticamente uma exigência da mídia CD na época, e daí vem "The Farm" e os 8 exagerados minutos da balada "Fallen Angels" (também composta em parceria com supa, e que o final meio "Kashmir" ainda vale), e que talvez seja o maior pecado aqui, o excesso de baladas, já que além de "Fallen Angels" e "Hole in My Soul", temos "Ain't That A Bitch", "Full Circle", e "Kiss Your Past Good-Bye",  todas muito similares entre si. 

Capa alternativa do álbum

Se desse uma enxugada, seria um disco melhor. Essas são as 13 faixas originais do disco. Aos completistas, há diversos formatos no mercado, com bônus diferentes. As mais notáveis são a japonesa, com as canções inéditas "Falling Off", cantada por Perry, e "Fall Together", e a brasileira, com os bônus "Falling Off" e "I don't Want To Miss A Thing". Cinco milhões em vendas no total, o que foi considerado um fracasso perante os 20 de Get a Grip

O nome é uma homenagem ao próprio grupo, que já tinha passado pelos altos e baixos, e sobrevivido como um gato (nos países de língua inglesa, o gato tem 9 vidas, e não 7 como aqui). A capa original acabou sendo substituída por conta de manifestações da comunidade hindu, que atribuiu a imagem de Lord Krishna (com cabeça de gato e peito feminino) dançando sobre a cabeça da cobra demônio Kāliyā, muito ofensiva, e assim, virou a do gatinho.  É considerado pelo site Ultimate Classic o pior disco da banda, o que acho um certo exagero, apesar de honestamente ele estar no meu Top 3 dos mais fracos do grupo.

O ao vivo A Little South of Sanity registra a fase mais bem sucedida do grupo

A banda embarcou em uma turnê de dois anos, registrada no ao vivo A Little South of Sanity (1998), ganhou um Grammy por "Pink" e finalmente, em 1998, conquistou seu primeiro (e único até hoje) number 1, com "I Don't Want to Miss a Thing", a qual merece um parágrafo a parte. Ela foi gravada exclusivamente para o filme Armageddon (1998), com participação de Liv Tyler, assim como "What Kind of Love Are You On" e uma nova versão para "Sweet Emotion". 

Single de "I don't Want Miss a Thing"
É uma composição de Diane Warren, e o seu single vendeu a incrível marca de 1 milhão e 200 mil cópias no Reino Unido, superando o 1 milhão de cópias do mercado americano. A marca de vendas pelo mundo superou 5 milhões, ou seja, o single vendeu o mesmo que o álbum antecessor. Por isso, a canção acabou sendo incluída na versão brasileira, apesar de que no estrangeiro, você só encontrará ela ou no single ou na trilha de Armageddon, o que faz da versão nacional (e a argentina também) um atrativo para os consumidores de fora do país.

Modernizando o som em Just Push Play

Depois de um período de três anos, em 2001 chega às lojas Just Push Play. Esse é um álbum um tanto quanto experimental em comparação ao seu antecessor, e apenas com 30% de baladas. 

Em um total de 12 canções, "Avant Garden", leve canção semi-acústica, "Fly Away From Here", com o belo piano de Jim Cox e a participação de Paul Santo nos teclados, "Jaded" e "Luv Lies" são as representativas da melosidade, com "Jaded" sendo o grande sucesso do disco. Porém, é o peso de "Beyond Beautiful", com um belo solo de Perry, e os eletrônicos que aparecem na faixa-título, canção na qual Tyler empunha também as seis cordas, e faz vocalizações em dialetos da Jamaica, que chamam a atenção. 

A capa dá indicativo de eletrônicos, com a versão robótica de Marilyn Monroe, e é na percussão principalmente que eles se sobressaem em algumas faixas, mais precisamente em "Drop Dead Gorgeous", que conta com Perry nos vocais, e as programações de Paul Caruso, "Under My Skin" e "Outta Your Head", uma faixa lunática com Tyler cantando como se fosse um rap, misturando batidas de hip hop e muita distorção. Curiosamente, essas são as músicas que mais agradam, junto de "Light Inside", canção crua, pegada e rocker na medida certa. 

Tom Hamilton, Brad Whitford, Steven Tyler, Joe Perry and Joey Kramer
of Aerosmith no Rock and Roll Hall of Fame, em 19 de março de 2001.
 

"Sunshine" e "Trip Hoppin'" são canções que pouco chamam atenção, a última com participação dos metais, a cargo da Tower of Horns e de Dan Higgins (clarinete e saxofone) e com bom embalo. Os arranjos de cordas de Just Push Play ficaram a cargo de David Campbell ("Beyond Beautiful", "Fly Away From Here", "Jaded") e Jim Cox ("Avant Garden", "Luv Lies", "Sunshine" e "Under My Skin"). Perry já atestou que acha esse o pior disco do Aerosmith, muitos fãs torcem o nariz, e entre mortos e feridos, realmente é uma das últimas opções que sugiro para os que não conhecem Aerosmith adquirir.

Entram na Hall of Fame do Rock 'n' Roll em 2001, exatamente quando "Jaded" alcançou a primeira posição nas paradas americanas. Algumas coletâneas saíram nessa época, em especial Young Lust: The Aerosmith Anthology (2001), Classic Aerosmith (2002) e O, Yeah! Ultimate Aerosmith Hits (2002), esse último com a inédita "Girls of Summer", mais uma para entrar na lista de baladas do grupo.

O álbum de covers Honkin' on Bobo

Passados mais três anos e Honkin' on Bobo (2004) é lançado. Esse é um álbum de covers das raizes bluesísticas do quinteto, acompanhado de Paul Santo (piano, piano elétrico, órgão), e trazendo onze versões muito particulares para canções do blues que marcaram época.  Há participações especiais de Tracy Bonham (vocais em "Back Back Train", dividindo com Perry, e "Jesus Is on the Main Line", um coral tradicional acompanhado pela steel guitar de Perry), Johnnie Johnson (piano em "Shame, Shame, Shame" e "Temperature") e The Memphis Horns (metais em "Never Loved a Girl"). 

As faixas que mantiveram a linha blues foram "Back Back Train", com a já citada dupla vocal de Perry e Bonham, "Eyesight to the Blind", com um show de Tyler na harmônica, "Never Loved a Girl", com Tyler ao piano e o marcante órgão de Santo, e "Temperature", mais um espetáculo da harmônica de Tyler. "I'm Ready" e "Road Runner" são versões amenas e de pouco destaque no contexto geral. Já as versões mais legais são de "Shame, Shame, Shame", que virou um rockzão dos bons, a pegadaça "Baby Please don't Go", a totalmente reinventada "You Gotta Move" e a surpreendente recriação do clássico de Peter Green no Fleetwod Mac, "Stop Messin' Around", cantada por Perry e com uma introdução fabulosa da harmônica e guitarra duelando. 

O bom ao vivo Rockin' the Joint

Além das covers, vale pela inédita "The Grind", uma bela balada bluesy. No geral, é mais essencial e agradável que seus dois antecessores, e seu posterior também. Na sequência desse disco, foi registrado no Hard Rock Joint de Las Vegas o CD e DVD ao vivo Rockin' the Joint (2005), trazendo canções de diversas fases da banda, e é o último ao vivo da banda até o momento. 

O grupo volta ao Brasil para uma única apresentação no Morumbi, em 2007. Antes, Tyler passou por uma cirurgia na garganta, Hamilton saiu temporariamente para um tratamento para câncer de garganta, sendo substituído nos shows por David Hull, a coletânea Devil's Got a New Disguise: The Very Best of Aerosmith, trazendo duas novas faixas ("Devil's Got a New Disguise" e "Sedona Sunrise"), tudo isso em 2006. Em 2008 lançam a versão do game Guitar Hero: Aerosmith, a primeira exclusiva para uma banda.

Aerosmith em Porto Alegre, 2010

Um fato interessante e lamentável foi que Tyler chegou a sair da banda no final da primeira década do século XXI. Tudo começou em agosto de 2009, quando o vocalista caiu do palco durante "Love In An Elevator" em um show em Buffalo Chip, nos EUA, com Tyler quebrando o ombro e cancelando parte dos shows do Aerosmith. Começou uma briga interna entre ele e Perry, que inclusive chegou a ter um anúncio extra-oficial de Lenny Kravitz como novo vocalista do Aerosmith, o que nunca se confirmou. 

Felizmente, tudo se resolveu e em 2010, ao Brasil para shows em Porto Alegre e São Paulo, na turnê Cocked, Locked, Ready to Rock Tour, que também passou pela Colômbia e Perú, onde o grupo pisou pela primeira vez. O grupo voltou ao Brasil diversas outras vezes nessa década. Veio mais uma coletânea, Tough Love: Best of the Ballads, em 2011, e finalmente, o novo álbum no ano seguinte.

Último álbum da banda até o momento

Somente após 8 anos, depois de muitos intempéries, o grupo conseguiu finalmente lançar seu décimo quinto álbum de estúdio, o primeiro em 11 anos. Em Music from Another Dimension! há uma quantidade grande de participações especiais, das quais vou destacar três apenas: Julian Lennon, fazendo os backing vocals da pesada "Luv XXX"; Rick Dufay fazendo a guitarra base em "Shakey Ground"; e Johnny Deep, fazendo os backing vocals de "Freedom Fighter". É um álbum que tenta resgatar o estilo de compor da época de Pump e Get a Grip, mas trazendo aquelas inspirações Zeppelianas dos anos 70. Claro, as baladas Aerosmithianas também estão nele, na verdade, em quase 50% do material. 

Elas são "Another Last Goodbye", com Tyler ao piano e um arrepiante violino, "Can't Stop Lovin' You", um dueto de Tyler com a cantora de country Carrie Underwood, "Closer", "Tell Me" (Tyler ao mandolim), a grudentíssima "What Could Have Been Love" e a linda "We All Fall Down", fácil uma das canções mais belas que o grupo gravou. 

O grupo nos anos 2010

Os rocks com inspirações setentistas estão em "Lover Alot", lembrando um pouco o estilo de "Draw the Line", "Oh Yeah", "Out Go The Lights", essa exagerando nas vocalizações femininas, e no hammond de "Something", cantada por Perry e com Tyler na bateria. O estilo de Tyler cantar "Beautiful", quase como um rap, remete-nos aos anos 80, sendo que nessa ele também toca guitarra. As melhores faixas são a viajante "Legendary Child", com fortes referências ao Led, o peso de "Freedom Fighter", outra com os vocais de Perry, e a pancada "Street Jesus", veloz e arrebatadora. A versão em vinil vermelho transparente, acompanhado de um CD, é muito bonita, e vale a pena a aquisição para a coleção.

Bela versão em vinil vermelho transparente do último álbum


O grupo vem divulgando notícias de uma turnê de aposentadoria. Desde 2012, foram realizadas várias turnês, mas nada de novo foi lançado. Fica a expectativa para o que pode acontecer nos próximos meses, e a certeza de que essa é uma das discografias mais valiosas e vendidas na história da música mundial.

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