segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Entrevista Exclusiva: Fernando Cardoso (Tecladista do grupo Violeta de Outono)



O grupo paulista Violeta de Outono (VdO) voltou ao cenário musical mundial com força na última década. Muito de sua nova sonoridade deve-se a entrada do músico Fernando Cardoso, o qual foi responsável por tornar o som psicodélico do VdO mais próximo ao progressivo sinfônico, e que atraiu ainda mais fãs. A banda lançou ano passado seu nono álbum Spaces, e irá fazer essa semana o encerramento de um festival ao lado de O Terço Lado B, Monstro Amigo e Bombay Groove. 

Em um bate-papo com a Consultoria, o em breve Dr. Fernando conta um pouco sobre sua carreira musical, sua formação, os projetos em paralelo com o VdO e as expectativas pessoais para o ano de 2017.


1. Olá Fernando, bem-vindo a Consultoria do Rock e obrigado por nos conceder essa entrevista. O Violeta estará participando essa semana do festival Brasil Prog (mais informações no site do evento), ao lado dos grupos O Terço Lado B, Monstro Amigo e Bombay Groove. Como surgiu a ideia do evento, e como está a preparação da banda para a grande apresentação de encerramento do Festival?

O show foi idealizado pelo Klaus Porlan, que tem trabalhado com algumas bandas como o Casa das Máquinas fazendo diversos shows no Interior e aqui em Sampa, mas não cheguei a conversar pessoalmente com ele. Enquanto isso os ensaios do Violeta já estão a todo vapor!

2. O que os fãs podem esperar de novidades no palco?

Como se trata se um festival prog, a maior mudança será no repertório. Vamos privilegiar nossas músicas mais elaboradas.

3. Há a possibilidade de festivais ou apresentações semelhantes com essas bandas acontecerem pelo país?

Seria incrível, mas a demanda é pequena e a verba então, nem se fala... Porém, nada é impossível, vai que dá “samba” (ou “prog”)!



4. Você recentemente teve a oportunidade de tocar junto com Sergio Hinds no projeto Os Três Guitarristas, em apresentação deste com os ícones Luiz Carlini e Nuno Mindelis, bem como acompanhou o líder d’O Terço no show Sérgio Hinds e 3HD, e fez parte da apresentação dos 40 anos do grupo Apokalypsis, ambos em 2015. Conte-nos um pouco sobre essas e outras apresentações, e principalmente, qual a sensação de ter a honra de dividir o palco com monstros sagrados da música nacional?

Fico muito feliz de estar ao lado dos “Três guitarristas”. A responsabilidade é grande, pois houve seleção de tecladistas na montagem do grupo. São três mestres diferentemente exigentes, mas acredito que a experiência através do convívio ainda deva moldar bastante o grupo. Adiantando um pouco a questão a respeito da Química, parece mesmo com uma reação: primeiro entre os três, mas também entre eles e banda (que ainda conta com o Bruno Falcão no baixo e o Fred Barley na bateria). Se a reação der certo, nasce algo que é novo, e eu espero muito que isso aconteça; mas isso dependerá da ‘reatividade’ dos caras, e ao bem da verdade, a história de cada um – que é venerável! – importará menos do que a vontade, a disposição e o prazer de transformar, de criar algo. Potencial há de sobra!
Quanto aos show, por enquanto estamos todos empenhados em realizar este repertório misto de composições dos três, além de algumas homenagens, da forma mais técnica e expressiva, buscando dinâmica em todas as músicas, e acho que vamos bem nisso; os colegas da cozinha são muito talentosos!
Também toquei com outros mestres da antiga, desde Pedro Baldanza e Manito, no Som Nosso de Cada Dia, passando pelo próprio Golfetti e outros como Zé Brasil, Gerson Conrad, Cezar de Mercês. Tenho diálogo mais fácil como o Fábio, que é de uma geração mais próxima, tanto em termos gerais como musicais, fruto de um longo convívio. Como sou uma pessoa pouco extrovertida, construo as relações aos poucos. E admiro muito, neste pessoal da antiga, exatamente o fato de serem muito extrovertidos; é muito agradável tocar com todos eles.

5. Além da arte, você também é Doutor em Química Orgânica pela USP. A carreira de Químico ainda existe em sua vida ou tornou-se apenas um hobbie?

A Química passou pela minha vida e se foi. Abri mão da Química para me entregar à Música. Se fiz algo de errado foi tentar servir às duas, ao mesmo tempo. Sempre fui músico, mas procurava uma profissão “normal”. Nunca me entreguei por completo à Química, exceto por um período de seis meses, durante o meu Doutorado, abdicando plenamente da Música. E aí que entrei em uma profunda depressão. As coisas tomaram um rumo estranho, culminando em eventos ruins. Até que me veio uma luz (literal) e me vi com a oportunidade de seguir uma nova vida, reassumindo o que de fato eu era, músico. Durante o processo de mudança, aconteceu algo maravilhoso. Conheci alguns grupos de música que se reuniram ao CompaCta TriÔ (minha antiga banda instrumental, com o Fred Barley e o Gabriel Costa, além do Eduardo Leal, à época) para criamos uma grande companhia de música, o MEFISTO (Movimento Experimental Fantástico de Integração Sonora Total), que realizou uma proeza ao juntar em palco doze músicos como instrumentos digitais, elétricos e acústicos, além de iluminação, cenografia, VJ, e uma atriz, em um festival na cidade de Araraquara (SP). O acontecimento me deu tanto estímulo que, ao chegar em São Paulo, assinei minha carta de desligamento da bolsa de estudos e da pesquisa em Química, em definitivo.



6. Você também participa do grupo de pesquisa “Teoria da Música”, da UNESP. Quais as principais diferenças em fazer doutorado nos dias de hoje em relação ao início dos anos 2000?

O doutorado em música tem sido um prêmio para mim. Pouco tempo após sair da Química, fui morar em uma vila do Butantã onde descobri que um vizinho meu era cravista. Conheci então o Sérgio Carvalho, que foi meu mestre por alguns anos, e em pouco tempo já estava tocando em orquestras. Entrei na graduação em Cravo na FAAM, onde estudei com Regina Schlohauer; em 2011, após me formar, foi ela quem em estimulou a prestar o mestrado em música naquele ano, mas não consegui me preparar. Em 2012 nasceu a Luíza, minha filha, e com o apoio da Renata, minha esposa, me preparei para as provas. Acontece que fiz um curso preparatório na UNESP com o prof. Marcos Pupo Nogueira, que se dispôs a me orientar e, sabendo de minha vida pregressa, considerou que eu seria capaz de entrar direto no Doutorado. Fui aprovado e iniciei a pós em 2013, ainda enquanto tocava com a Orquestra Arte Barroca, em paralelo às aulas no EMT. Em 2014 saiu minha bolsa de estudos, e então abdiquei da orquestra e do EMT para me dedicar integralmente aos estudos. Atualmente estou escrevendo a versão final da tese, tratando do desenvolvimento da música instrumental no Renascimento.
Há muita diferença entre os dois doutorados que fiz. Sinto falta do laboratório, admito; na época, tinha muitos amigos no Instituto de Química da USP, onde eu integrava, só para se ter ideia, a confraria dos “Insetos Nocivos”. No Instituto de Artes da UNESP, grande parte da pesquisa em música é teórica, e as pessoas são mais reservadas. Mas com toda a convicção estou muito mais debruçado em meu trabalho atualmente.

7. Sua pesquisa envolve o estudo da teoria e análise de música medieval e renascentista, o que culminou com o apelido “O Renascentista do VdO”. Como fazer para trazer a renascença de uma formação em cravo para o rock progressivo?

O que se traz são alguns elementos característicos desse período. Isso já acontece o bastante no Classic Rock, mas em relação aos períodos barroco, clássico ou romântico, como na passagem instrumental de “Burn” do Deep Purple, onde o duelo de arpejos entre órgão e guitarra tem base em um “ciclo de quartas”, uma arquitetura típica do compositor “barroco” Antonio Vivaldi. Já no Rock Progressivo os elementos renascentistas são mais comuns, como passagens imitativas ou até em cânone e em contraponto inversível (ex.”Just the Same”, “Proclamation” e “On Reflection” do Gentle Giant). No Violeta de Outono, há ocorrências especialmente em “Cidade Extinta” do novo álbum Spaces, como em uma seção que chamamos de “A lousa”, onde há um encadeamento complexo de harmonias, típico de madrigais do renascimento tardio de Gesualdo e Monteverdi. Também há nesta música um motivo melódico, formado por quatro notas (ré, mi, si e si bemol), que se transforma por meio de processos contrapontísticos como aumentação, inversão e retrogradação, que foram desenvolvidos no período Medieval e influenciaram todos os períodos históricos.



8. Ano passado, você fez uma apresentação na Igreja da Boa Morte, em Campinas, junto ao grupo FICTA, ao lado de Ligiana Costa (voz), Giulia Tettamanti (flauta) e Gilberto Chacur (viola da gamba). Conte-nos um pouco sobre esse projeto e como é “girar o botão” em relação as gravações com o VdO e as apresentações com o FICTA.

Tenho feito algumas apresentações com o FICTA em SESCs e igrejas. Agora em 2017 fomos selecionados no edital do SESI, e teremos uma série de apresentações com data ainda não definida. Em breve poderemos divulgá-las em nossa página no Facebook e devem estar disponíveis também no site do SESI.
Interpretar dois estilos musicais tão distantes na linha do tempo é como você começar a estudar latim e descobrir que ele é a base de muitas línguas atuais. O latim, por sinal, era linguagem corrente no Renascimento, sendo utilizado na igreja e nos meios teóricos de diversas áreas, como em diversos tratados antigos que tenho estudado no doutorado. O repertório de motetos renascentistas, por exemplo, é todo baseado no latim, e a música funcionava como uma espécie de ornamentação para o texto. Daí que, se o texto não se repete nem em verso, nem em expressões (como é o caso de muito textos litúrgicos), a música também não se repete ao longo de seu roteiro. Isso gera uma sensação mosaical em sua percepção, o que torna muito difícil manter a atenção durante sua escuta, caso esta não seja amparada pelo próprio texto, que funciona então como um guia. Esta é uma das característica mais distintivas desse repertório, ao meu ver. 
Já o repertório do FICTA é baseado em madrigais renascentistas, que tem como língua o Italiano arcaico; tratam-se de obras para quatro ou cinco vozes, em escrita polifônica, passível de instrumentalização (ou seja, substituir vozes por instrumentos) e também de improvisação. Conexões entre música antiga e estilos atuais como o Progressivo (como dito anteriormente) e mesmo o Jazz (pela improvisação), são possíveis sim, apesar de serem raras; passar de um estilo para o outro, contudo, é como guiar ora uma bike, ora um carro, ora uma moto: uma vez aprendido, não se esquece.

9. Você pretende lançar algum material exclusivo, apenas com peças para cravo?

No momento não. Após o doutorado, penso em abrir um pouco mais os horizontes para daí formular uma ideia mais atraente, seja ao cravo, seja como trabalho autoral solo.



10. Falando agora sobre sua carreira junto ao Violeta, você entrou na banda em 2005. Como surgiu essa oportunidade e como era sua relação com o Violeta antes disso?
Na primeira vez em que pisei num palco para tocar rock, toquei Violeta de Outono (como baixista). Eu e outros colegas éramos aficionados pela banda, e estive mesmo em alguns shows. O Fabio Golfetti me conheceu por conta do Yessongs (a banda tributo ao Yes da qual fui tecladista entre 2000 e 2007). Eles procuravam um tecladista para substituir o Fabio Ribeiro. O primeiro show foi em Abril de 2005, no Café Piu-Piu.

11. Logo de cara, você participou do show em homenagem a Syd Barrett, realizado dias após a morte do eterno fundador do Pink Floyd (2006) e que foi lançado no DVD SeventhBringsReturn : A Tribute toSyd Barrett. Quais as suas principais lembranças desse show?
Tivemos a ideia de tocar o Syd Barrett no final de 2005, pois além ser uma das maiores influencias da banda no inicio, queríamos resgatar a sua musica numa homenagem, já que ele estava recluso há um bom tempo. Fizemos uma série de shows de Janeiro a Julho e para nossa surpresa veio a noticia do falecimento uma semana antes do show do SESI... Lembro de ter tocado em um piano Bösendorfer Imperial do Teatro do SESI que era fantástico. Mas o que mais me tocou foi a nostalgia da platéia, como dando um adeus ao ídolo. Foi bem legal. 

12. Outro show marcante foi o ocorrido em 03 de maio de 2009, no Theatro Municipal de São Paulo, o qual registrou na íntegra o álbum Violeta de Outono, o clássico de estreia da banda, e ainda o EP Reflexos da Noite. Conte-nos um pouco sobre as emoções e ensaios para essa apresentação, já que ambos os álbuns são venerados pelos fãs do grupo.

Toquei em duas oportunidades no Teatro Municipal de São Paulo, uma em 2008 com o Som Nosso de Cada Dia e no ano seguinte com o Violeta de Outono. Não tive (ainda) oportunidade de tocar lá como músico erudito, ironia do destino. O repertório dos primeiros discos do Violeta não é muito simpático ao órgão, de modo que foi difícil chegar em um arranjo equilibrado. Lembro que alguns fãs não curtiram, mas foi uma minoria que se expressou contra; penso que qualquer arranjo do álbum clássico ofenderia puristas, mesmo aqueles com orquestra, de 2004.



13. O novo álbum, Spaces encerra uma trilogia que começou lá em 2007, com o ótimo Volume 7. Como está a divulgação e o retorno de feedback pela imprensa e fãs tanto aqui no Brasil e quanto no exterior?

Bastante diversa. Tanto os fãs brasileiros como os de fora gostam do álbum, mas tendem a preferir o Vol. 7 ou o Espectro. Em breve, suponho, haverão aqueles que gostarão mais do Spaces, em especial aqueles que estão conhecendo a banda (ou a sua nova fase, essa da trilogia) somente agora. A imprensa segue a mesma linha. Ficamos entre os vinte e cinco melhores álbuns nacionais do ano de 2016 pela Revista Rollling Stone, e estamos no momento em 54º melhor álbum prog de 2016 pelo Prog Archives, um dos melhores sites dedicados ao grande gênero; acredito que essa cotação ainda possa melhorar, visto que o álbum saiu apenas no final de 2016, e mais pessoas irão escutá-lo.

14. O que ficou mais cravado na mente dos fãs foi a guinada prog que sua entrada forneceu ao grupo, saindo bastante do lado mais psicodélico dos anos 80? Quais os principais fatores que você considera importantes para essa mudança?

De um lado, desde meus primeiros dias na banda eu via no Fabio a proposta de mudar o som da banda, de desgarrar-se do modelo inicial. Foi o Fabio que abriu esta perspectiva, da banda ficar mais prog. De outro, eu já vinha com a formação prog, erudita, e de composição no CompaCta TriÔ (a banda instrumental supracitada que, após o Edu Leal, teve como guitarrista o Emiliano Alvarez, com quem inclusive fizemos um tributo ao King Crimson, o que foi uma grande escola para nós). Por fim, o órgão Hammond passou a ser um ponto comum em quase todo o repertório que fazíamos no Violeta, e acabou de certa forma tornando-se uma marca registrada desta nova fase. Mas acho que o Gabriel Costa também merece bastante crédito pela guinada; sendo um grande entusiasta e conhecedor dos gêneros prog, acabou por alavancar ainda mais as ideias do Fabio Golfetti.

15. Como foi trabalhar com Andy Jackson, um dos principais nomes da masterização, responsável entre outros pelo trabalho de engenheiro de som de álbuns como A Momentary Lapse of Reason e The Division Bell.

Tenho uma opinião bem concisa sobre esta masterização... Foi uma das poucas vezes que percebi uma diferença “espacial” entre a mix e a master, como indo do 2D para o 3D... Não conheci o Andy, que é um contato atual do Fabio, mas acredito que se a mix estivesse sob sua produção também, teríamos um resultado ainda superior.



16. Você utiliza vários efeitos no decorrer do álbum, principalmente na belíssima suíte “Imagens”. Qual a sua visão sobre a utilização de apenas um único sintetizador que emula diversas sonoridades distintas e a utilização de vários teclados no palco. Particularmente, acho bonito ver o palco cheio de teclados, como Wakeman e Downess, por exemplo, mas como doutor em Física, confesso que é muito interessante do ponto de vista tecnológico ver a aplicação dos efeitos em apenas um simples instrumento.

Todos os timbres sintetizados do disco foram criados em um mini-moog Voyager. Procurei fugir de uma timbragem muito caricata, digamos, muito similar à Wakeman ou Emerson, e algo mais na linha Tim Blake (do Gong setentista) em relação aos efeitos sonoros. O mini-moog em si não é um emulador, sendo de fato um gerador de ondas sonoras. 
Particularmente, prefiro um Moog no palco, mas para viagens minha opção é um instrumento mais leve, o SH-201 da Roland, também um gerador sonoro, que não deixa tanto a desejar. Porém atualmente não consigo utilizar timbres de synth “pré-programados”, assim como raramente utilizo algum órgão que não seja da Hammond, seja em estúdio, seja ao vivo. 
Quanto a estas configurações maiores ou menores, penso que para o Violeta de Outono o que basta é o “quarteto fantástico”, como Moog, Hammond, Fender Rhodes e piano acústico; para estes dois últimos, por questões de logística, costumo utilizar emuladores.

17. Outro ponto que me chama a atenção em Spaces são as passagens jazzísticas destacadas em “Imagens”, “Cidade Extinta” e principalmente na instrumental “Parallax T-Blues”, que também traz fortes lembranças de grupos da Cena de Canterbury. Essas ideias surgiram espontaneamente em jams ou foram trabalhadas ao longo de processo de concepção das canções?

Elementos de Jazz são mais presentes neste disco, por influências diversas mas também por uma aptidão especial do José Luis Dinola a esse direcionamento. No meu caso em específico, me baseio muito no Nektar, em como eles misturam rock e jazz. Em geral as passagens jazzísticas são incorporadas às musicas depois de prontas, servindo como um tempero que dá aquele cheirinho de Cantebury. Tentamos com isso resgatar um tanto da atmosfera presente no Vol. 7; algumas dessas passagens, contudo, poderiam ter sido um tanto mais rock, mas ficamos receosos de um resultado final estereotipado.



18. O fato do Fábio estar tocando com a Gong trouxe de alguma forma influências para algumas faixas de Spaces?

A influência gongiana no Fabio é prévia à entrada dele na banda. Mas “Parallax” é de longe o melhor exemplo, no disco.

19. Por que a ideia de homenagear o pintor e poeta suíço-alemão Paul Klee, principalmente na faixa “A PainterOf The Mind”?

A arte sutil de Paul Klee é bem influente no Fabio. No Spaces, tem um certo caráter simbólico, que ajuda a definir o conceito do álbum. “A Painter” foi uma experiência bem sucedida do Fabio em aproveitar material poético desse autor em uma das músicas.

20. E quanto a turnê? No site oficial da banda não constam datas para divulgação pelo país. O que está determinando a ausência da banda nos palcos nacionais? É algo pontual?
Ainda estamos dialogando acerca da agenda. O Fabio terá diversas viagens internacionais para as turnês com o Gong, e precisaremos aprender a conciliar as agendas.



21. Quais as expectativas da VdO para 2017, bem como as suas expectativas particulares?

Acho que a próxima fase da banda dependerá de um intenso laboratório de ensaios, em paralelo ao trabalho de divulgação do Spaces, que precisa ser melhor articulado. Pessoalmente, pretendo defender minha tese de doutorado em março deste ano, e aí devo embalar em outros projetos, possivelmente didáticos.

22. Para encerrar, conte-nos alguma história curiosa ou engraçada envolvendo alguma apresentação sua, seja do ponto de vista musical ou do ponto de vista dos estudos.

Algo que foi curioso nos meus estudos foi em um certo dia, quando apresentava um seminário no grupo de pesquisa “Teorias da Música”. Apresentei a imagem de uma peça (um “Et in terra pax...”) de um manuscrito de 1430, que havia encontrado em um códice italiano (atualmente é relativamente fácil encontrar esses códices digitalizados, em sites de bibliotecas europeias), contudo sem indicação de autor ou origem. Após o seminário, meu orientador tomou um livro de sua biblioteca particular, e disse ao grupo que era algo que podia nos interessar, mas que ele mesmo nunca havia lido: tratava-se de uma edição de 1950 de obras medievais compiladas na Catedral de Milão, com cerca de 700 páginas, e detalhes de todas as obras. Um outro colega tomou o livro, abrindo-o em uma página qualquer. Após fitá-la por instantes, disse-me que podia ser do meu interesse. Só então eu me detive sobre a partitura, e notei alguma semelhança com a peça que eu havia apresentado no seminário. Comparei então as duas, e percebi que tratava-se, de fato, do mesmo “Et in terra pax”!!! Bom, isso nunca teria acontecido caso: 1) eu não desse o tal seminário; 2) meu orientador não tivesse comprado o livro em um sebo, décadas atrás; e 3) meu colega não estivesse ali para abrir o livro, na exata página. Aconteceu há dois meses atrás, e pareceu-me como um sinal divino, de que eu estava indo no caminho certo, e que eu devia continuar.



23. Muito obrigado por sua atenção e por favor, deixe um recado para os nossos leitores.

Agradeço muito a Consultoria do Rock pela oportunidade de expor essa trajetória pouco comum que aqui relatei. Meu recado aos leitores é para que sejam perseverantes naquilo que fazem com amor, mesmo que por vezes pareça difícil. As dificuldades são parte do aprendizado e muitas vezes irão definir os rumos de nossas vidas. Mais uma dica: se forem ouvir música vocal renascentista, façam isso acompanhando o texto original, mesmo que em latim. Ou seja: não escutem enquanto estiverem dirigindo.

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