quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Terno - O Terno [2014]



Depois de aparecer com destaque na edição n° 95 da revista Rolling Stone em sua edição brasileira, com uma matéria especial e quatro estrelas de Pedro Antunes para o álbum homônimo, o grupo O Terno entrou na minha lista de bandas a serem conhecidas, já que a curiosidade com a descrição - gostinho vintage em meio a teclados, órgãos e timbres de décadas passadas - rapidamente atiçou meus ouvidos. 

Formado em 2009 na capital paulista por Martim Bernardes (guitarra, voz, piano, órgão), Victor Chaves (bateria) e Guilherme d’Almeida (baixo), o grupo já está em seu segundo álbum. O primeiro, 66, foi lançado em 2012 de forma totalmente independente, levando-os a lotar o Auditório do Ibirapuera em São Paulo e recebendo comentários positivos de boa parte da imprensa, como o jornal O Globo, do Rio de Janeiro, que o colocou como "Um dos mais impressionantes discos de estreia de uma banda brasileira em todos os tempos", e com a citada Rolling Stone elegendo 66 como um dos 25 melhores lançamentos nacionais daquele ano.​ Carregado de ironia, humor e canções diretas e curtas, realmente O Terno salientava-se sobre a mesmice que aparecia na época.

Capa interna de O Terno

Dois anos depois, O Terno vem para novamente surpreender à todos, inclusive aqueles que ficaram de boca aberta com 66. Afinal, não há lembranças do rock simples, sessentista e com boa dose de humor de 66, mas sim, um amadurecimento através de temas sociais, principalmente da classe média jovem de nosso país, e também na musicalidade do trio. Depois de 400 mil visitas em seu site, a arrecadação de R$ 35 mil reais para a criação de O Terno, um álbum muito versátil, que pega influências desde a psicodelia do Pink Floyd de Syd Barrett até a sutileza musical do Clube da Esquina de Milton Nascimento e Lô Borges, passando também pela Tropicália e por que não, o hard dos anos 70, sobrou para o trio caprichar nas críticas à imprensa, a uma classe jovem sem saber sobre o futuro e até mesmo ao estilo proposto por eles em suas músicas.

A faixa de abertura é uma ótima demonstração das inspirações do grupo, já que "Bote Ao Contrário" possui grandes referências de Tom Zé, seja no vocal de Tim ou na letra debochada criada pelo autor, falando sobre as revoltas adolescentes, mas adicionando elementos diversos que acabam transformando a breguice musical em uma surpreendente faixa. "O Cinza" vira o disco 180°, começando com uma pancadaria que acaba em uma leve canção sobre a angústia de se andar em São Paulo, mas com um refrão que irá balançar as paredes de sua casa. "Ai, Ai Como Eu Me Iludo" é uma balada sessentista com o marcante órgão tropicalista zanzando durante suas frases doloridas de alguém com grandes problemas de convivência, seguida por mais uma canção bastante tropicalista, "Quando Estamos Todos", com um sutil embalo de valsa, tendo o órgão como carro chefe.

Guilherme d’Almeida, Victor Chaves e Martim Bernardes

A mensagem da leve "Eu Confesso" mostra uma crítica aos jovens mimados da classe média enjoada com pinta de artista, que se consideram inteligentes, bonitos e importantes, ampliada durante "Brazil", linda melodia beatle com flautas desta forte candidata a melhor de O Terno, cantada em inglês e com uma crítica forte ao pensamento estrangeiro sobre nosso país ("How do you think that we go to our schools? Climbing our lions on dirt avenues? ... Well rich robbing poor people That's trully wild").

A alegre "Pela Metade" tem como destaque seu arranjo instrumental, enquanto "Vanguarda?" é uma faixa extremamente experimental, audaciosa, trazendo uma nostalgia Mutante dos primeiros álbuns, seja nos efeitos da guitarra ou nas malucas passagens instrumentais, criticando aos que enalteceram a banda chamando-os de Vanguarda do rock nacional, exatamente a imprensa, e novamente somos surpreendidos pela simples (e simplória) "Quando Eu Me Aposentar", de mais uma história de um jovem viajando sobre seu futuro e o seu presente. "Medo do Medo" é uma viagem lírica sobre um andamento conturbado como a letra, refletindo o pavor de quem tem medo de tudo, destacando o forte solo da canção, na melhor linha de gigantes como Grand Funk Railroad ou Uriah Heep, e trazendo a participação especial de Tom Zé em assustadoras vocalizações.

As irônicas letras do álbum

"Eu Vou Ter Saudades" é de levar às lágrimas tamanha a beleza dos acordes e da dor exalada pela voz de Martim, com um certo ar de Caetano Veloso, e para terminar, mais um choque aos ouvidos com o piano enigmático de "Desaparecido", letra fantástica de um filho que acaba de descobrir que não é filho de seus pais, e pior ainda quando sabe que foi sequestrado pelos pais que o criaram, com um final de estória assustador e inesperado, tendo uma trilha sonora de desenhos animados para completar essa bela obra d'O Terno.

Trocando em miúdos, O Terno (disponilibizado para download no site oficial da banda, e lançado em vinil) é um belo e surpreendente disco do início ao fim. Apesar de não ter captado a genialidade que diversos setores da imprensa têm grifado em letras garrafais em suas críticas para o grupo, posso tranquilamente afirmar que o trio é diferenciado no mercado nacional. Ouvir O Terno é apenas mais um exemplo de que o rock e a criatividade no Brasil ainda respira, e sem aparelhos.

Capa e Contra-capa do vinil O Terno

Track list

1. Bote Ao Contrário
2. O Cinza
3. Ai, Ai Como Eu Me Iludo
4. Como Estamos Todos
5. Eu Confesso
6. Brazil
7. Pela Metade
8. Vanguarda?
9. Quando Eu Me Aposentar
10. Medo do Medo
11. Eu Vou Ter Saudades
12. Desaparecido

3 comentários:

  1. Eu jamais escolheria um nome como esse porque fica parecido demais com o Terço. Mas talvez a intenção tenha sido justamente essa.

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  2. Tenho João Victor. Vendo não, desculpe

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