segunda-feira, 7 de julho de 2014

War Room: Pixies - Bossanova [1990]



Por Antonio Cândido
Convidados: Bernardo Brum, Davi Pascale e Mairon Machado

Um dos grandes nomes da música dos anos 80 foi o grupo Pixies. Vários foram os álbuns lançados pelo grupo que marcaram época, um deles, o contestado Bossanova, de 1990, que foi assim analisado pelos colegas Antonio Cândido, Bernardo Brum, Davi Pascale e Mairon Machado, em mais um War Room.

1. Cecilia Ann

Mairon: Sempre tive curiosidade com o Pixies. Ouvi a banda há muito tempo, e não lembro das canções. Essa primeira faixa, instrumental, me lembra Agent Orange, ou seja, um belo som para abrir um LP. Tomara que continue nesse nível.

Antônio: Instrumental bem surf music esse hein.

Bernardo: Tem a melodia e a levada próprias do surf, mas acrescentado de um peso sujo que agrada muito.

Antônio: Joey Santiago é muito bom em fazer isso, esse crossover de surf e peso.

Davi: Surf rock alegrinho. Começa bem.

Mairon: Desconheço totalmente a banda, e nunca fui atrás como deveria. Qual é a formação Antonio?

Antônio: Joey Santiago (guitarra), Lovering na batera, Black Francis no vocal e Kim Deal no baixo.

2. Rock Music

Antônio: Peso e gritaria. Lembra mais o climão do Surfer Rosa (1988) e do Come on Pilgrim (1987).

Mairon: Putz, agora piorou. É Nirvana isso daí?

Antônio: É o pai do Nirvana, seu fresco!

Mairon: Tão ruim quanto o filho ...

Antônio: Benzadeus ...

Bernardo: Ouvindo isso dá pra entender o porque do Pixies ser tão influente pra geração que o sucedeu. Pauleira nervosa que antecedeu toda aquela raiva em forma de som que predominou nos noventa.

Antônio: Ela é pesada, mas ao mesmo tempo é uma coisa de paixão e tesão. E mais uma vez o Black Francis usa o espanhol nas letras.

Davi: Anarquia total. Nirvana bebeu bastante na fonte. Mesmo tipo de estrutura, inclusive.

Mairon: Essa 2 é decepcionante.

Antônio: Não sabia dessa tua predileção pelo limpinho, Mairon.

Bernardo: O nome não podia ser outro. Síntese de rock isso aí. Distorção, gritaria, intensidade...

3. Velouria

Antônio: Parece trilha sonora pra sonho, que música boa de ouvir essa.

Mairon: Esses efeitos no meio da música são interessantes, e a acalmada me agradou. Era isso que eu esperava do Pixies, mais na linha anos 80 e menos pancadaria.

Antônio: Kim Deal é insubstituível mesmo. Colocaram uma argentina, mas não alcança a estranheza dela.

Davi: Gosto dessa. Anos 80 total. Melodia simples, porém bem agradável.

Antônio: Mairon, Pixies sempre foi assim,desde o Come on Pilgrim. Uma de pauleira, gritaria e distorção, e outra de música de ninar bebê.

Mairon: Estou preferindo as de fazer bebê dormir.

Bernardo: "Velouria" carrega a assinatura típica dos Pixies, mas também tem a cara do Bossanova, nesse diálogo que o álbum estabelece tanto com a sonoridade retrô do surf quanto o clima viajante e futurista do space rock. Pixies com um caldo diferente, mas ainda muito bom.

4. Alisson

Antônio: Mais guitarra nervosa.

Mairon: Essa já é mais animada, e sem as distorções de "Rock Music". Não é das piores, mas ainda prefiro a calmaria. Destaco o baixão na mesma, e essas vocalizações são muito boas.

Davi: Linha vocal bem pegajosa.

Antônio: E essa guitarrinha quase rockabilly.

Bernardo: Puta riff. Rápido e enérgico, contrastando com os vocais mais pop e acessíveis de Francis. E a cozinha bota qualquer um pra bater pé junto!

Davi: Baixo marcante.

5. Is She Weird

Antônio: Olha o baixão de novo.

Mairon: Outra que me lembra Nirvana, ou melhor, Nirvana lembra isso. A diferença é que o Pixies tinha um bom baixista e um bom guitarrista pelo que estou ouvindo aqui. Detalhe que ouvi Bossanova há uns 8, 9 anos, e não lembro de nada.

Antônio: Eu escuto ele desde que lançaram, e nunca cansa.

Davi: Nessa o que me chama mais atenção é a guitarra.

Bernardo: Baixão guiando uma verdadeira viagem sonora, com várias melodias e vocalizações criativas despontando aqui e ali, sem nunca perder o peso intenso marcante da cozinha. Puta contraste que os Pixies sabiam casar com uma propriedade única.

Davi: Achei a linha de guitarra bem criativa. Tirando a parte do refrão que é bem óbvia, mas acho que não tinha como ser muito diferente mesmo.

Antônio: Na época a crítica especializada desceu o pau, por que o Black Francis tava muito fixado em alienígenas e Área 51.

Bernardo: Eu apresentaria essa música pros extraterrestres se eles ficassem curiosos em saber qual o som que a gente curte aqui.

Mairon: A gente não Bernardo, vocês.

Antônio: As letras do Bossanova são, na maioria, sobre alienígenas ou coisas do tipo.

6. Ana

Antônio: Mais uma de nanar bebê.

Mairon: Instrumental me lembrando Beach Boys, com uma variaçãozinha no meio que o Beach Boys certamente não faria.

Davi: Baladinha. Essa eu estou achando meio sem graça, meio morta.

Bernardo: Essa aí chapa só de ouvir. Beach Boys batidos no mesmo liquidificador que o Joe Meek. Pop e estranha, com um clima etéreo muito bem vindo.

Mairon: Gostei dos vocais, e o Bernardo sintetizou perfeitamente o que pensei da mesma.

7. All Over the World

Bernardo: Mandamento primeiro: você tem que amar os riffs de guitarra do Pixies!

Antônio: Continua na mesma viagem, mas mais agitado.

Mairon: Essa é pop descarada heinhô. Podiam ter feito algo melhor.

Antônio: Calma, auahuhaha.Davi: Essa é bacana. Trabalho de guitarra bem legal.

Mairon: As guitarras soam fortes, distorcidas, sem técnica nenhuma, só que boas para os ouvidos.

Antônio: Olha a guitarra nervosa aí, Mairon.

Mairon: Sim Antônio, únicos momentos decentes da música.

Davi: Fazia muito tempo que não ouvia esse disco.

Mairon: Eu também Davi.

Davi: Esse som é bem legal.

Mairon: Bah, agora mudou tudo. Que virada foi essa? 180°, e para melhor.

Bernardo: Reparte pauleira com calmaria, com aquela proposição sonora que fez o grunge nascer: um power pop se pegando na porrada com o punk e com o heavy metal, com melodia, peso e agressividade em disputa eterna.

Antônio: Eu acho uma das melhores do álbum, por ter essa crescente, pela letra, e a forma de ir da calmaria ao nervosismo. Mais ainda por que no LP ela fechava o lado A. Então era uma despedida ate virar o disco.

Mairon: Essas bandas dos anos 80 quando inventavam de fazer música com mais de 4 minutos, sempre saía algo interessante.

Bernardo: Sim, verdadeiras mini-suítes que exibiam todas as referências dos caras.

Antônio: Lá vem o Mairon com as músicas de dia e meio dele.

Davi: kkkkkkkkkkkkkkkk.



8. Dig for Fire

Antônio: Essa tem uma historia engraçada.

Mairon: Conta pra nós aí.

Bernardo: É conta aí!

Antônio: Lembro de ter lido uma entrevista om eles, em que na turnê, num show, o Bono tava na plateia, e ai depois do show mandou um bilhetinho pros caras dizendo: continuem procurando pelo fogo! Ai o Black Francis falou na entrevista: quão importante você tem que ficar pra mandar bilhetinhos?

Mairon: Bono é GÊNIO!!

Antônio: Bono não suporta ser o Numero 2! (South Park Joke)

Bernardo: HAHAHAHAAHAHAHA.

Davi: Bono >>>>>>>>>>> Pixies

Mairon: Surf rock com reggae e rap? Esse é o ritmo de "Dig for Fire". Lembra The Cure, com a guitarra do U2 esse início, mas o refrão é totalmente Smashing Pumpkins.

Bernardo: Kim Deal é deusa! Que levadão de baixo!

Davi: Essa achei meio mala. Refrão legalzinho, mas a parte do verso achei bem chatinha.

Antônio: É a mais popzinha mesmo.

Mairon: Davi falou e disse.

Bernardo: O Francis falou que essa música é "uma imitação ruim de Talking Heads". Discordo da parte do ruim, mas bem que poderia ser da banda do Byrne!


9. Down to the Well 

Mairon: Voltou a ser Nirvana, só que com psicodelia e meio Joy Division com Talking Heads. Estranho demais para meus ouvidos essa faixa.

Antônio: Mas é a estranheza que caracteriza o Pixies. Eles fizeram algo que ate então não existia. Esse casamento de surf music com distorção e letras ora gritadas, ora murmuradas ou de embalar neném, somado a 4AD com seu design grafico muito bizarro, criaram a coisa mais inspiradora e autentica dos anos 80.

Davi: As linhas de baixo são extremamente simples, mas casam com a banda, mas o que tem me chamado mais a atenção até agora mesmo é o trabalho de guitarra.

Bernardo: Distorção arranhando, melodia psicodélica e refrão explodindo. Pixies me dão a impressão de casar várias décadas de música sob o mesmo teto sonoro.

Davi: Esse som achei bacana.


10. The Happening 

Mairon: Baixão anos 80, riff forte. Nirvana puro.

Antônio: Aí está a Area 51!! kkkk

Mairon: Não gostei do Acontecimento e opa, agora mudou, ficou legalzinha. A reta final ficou melhor.

Antônio: Ela vai mudar no final. Também está entre minhas preferidas, mas a segunda parte, onde ele praticamente declama a letra. Existem ate gravações em que a música é apresentada só com a segunda parte.

Davi: Me lembra bastante as bandas grunge dos anos 90. E tem alguns segundos em que a guitarra me lembra Sonic Youth.

Bernardo: Esse riff traz meio mundo abaixo! Essa sim poderia ser a trilha sonora para a invasão alien. Angústia rasgada, passagens melódicas cantadas em falsete, passagens estranhas e etéreas. Os caras sabiam ser refinados e toscos até mesmo dentro de uma música só.

Mairon: Smashing Pumpkins, Sonic Youth, Talking Heads, Nirvana, tem muita banda que lembra isso.

Bernardo: Junto com o Dinosaur Jr, Melvins, Sonic Youth, as bandas do Steve Albini e tal, Pixies foram a escola onde esse pessoal formou o som deles. Tornando um pouquinho mais palatável, claro.

Antônio: É o que eu acho, não precisa dar uma aula de musica, ser um prodígio e fazer umas músicas de 25 minutos chatas pra caralho e sem vida, sem sangue.

Bernardo: Ui!

Mairon:  Também não precisa ofender Antonio. Yes, Genesis e Pink Floyd são muito melhores e mais tocantes que isso.

Bernardo: Huauhauhauhahuahuauhauha.

Davi: Na verdade. Os dois universos tem coisas boas, mas são universos bem distintos.

Antônio: Depende, Mairon. Yes tem coisa que é um saco, kkkkkkkkk.

Mairon: "Owner of a Lonely Heart" por exemplo.

Davi: Essa é boa Mairon.

Antônio: Genesis eu nem conto, por que pra mim é coisa de tia velha.... kkkkkk

Mairon: Só se for o Genesis do Phil Collins, daí concordo.

11. Blown Away 

Mairon: Essa 11 aí é de um porre descomunal. Punk de velho.

Bernardo: Velho, nem consigo lembrar de Yes com "Blown Away" tocando! Já fui embora!

Mairon: Que voz ridícula é essa?

Davi:  Essa 11 achei chatinha.

Mairon: Isso aí Davi, relho neles.

Bernardo: Subi nessa guitarra sujona aí, embalei no vocal viajandão e acordei na Area 51.

Antônio: Auahuahhahaha. É por ai!

12. Hang Wire 

Davi: Essa já é mais legal. O cara não inventou moda de efeitos vocais, logo não cagou a música.

Mairon: Concordo Davi. O baixo e a guitarra são os melhores momentos da banda. Pena o baterista ser tão quadrado.

Antônio: O baterista tinha problemas fortes com a heroína, então. As vezes isso influenciava. Era o mais fraco dos três.

Mairon: Hmmmmmm, está explicado.

Davi: Som bem pra cima, guitarra com efeitos legais.

Mairon: Os efeitos me chamaram a atenção. Bem que podia ter mais daquele surfer lá do início.

Bernardo: Baixo marcadão e vocal gritado no refrão crescente. Groove sempre pulsante, com Black e Santiago oferecendo belíssimas passagens guitarreiras.

Mairon: O que vocês acham de Agent Orange?

Antônio: Massa, mas não se compara.


13. Stormy Weather 


Mairon: Música de punk bêbado que ouviu Lou Reed. Essa é terrível!!!

Davi: Essa é chatinha mesmo, mas é melhor que Lou Reed.

Bernardo: Falou heroína e começou essa música. Levada sombria que descamba para uma instabilidade sonora uptempo meio perturbada, com guitarras sem muito direcionamento contrastando com as vocalizações mais pop.

Mairon: Bah, estragaram o disco com essa música. Até que estava bom. A parte instrumental deu uma melhorada, fazendo-a melhor que Lou Reed. E melhor que Tabua de Esmeraldas, sem dúvidas.

Antônio: Essa é pra começar o fim, é conceitual. Tu não te amarra nisso, Mairon? kkkkkk

Davi: kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Mairon: Sim, mas conceitual bem feito. Tem disco do Iron Maiden que é conceitual, mas só por ter o Bruce Dickinson no vocal já é chato.

Antônio: Iron, na maioria das vezes, é chato.

Mairon: Agora tu arranjaste briga feia, Antônio.

Antônio: kkkkkkkkk

Mairon: Lembra Beatles essa bomba aí, que horror.


14. Havalina



Bernardo: Delícia de ouvir esse início.

Mairon: Ó, baladinha instrumental inspirada em Beach Boys? Gostei.

Antônio: Sinto ate a brisa do mar na cara.

Mairon: Ah, tinha que entrar os vocais ... Estragou tudo.

Davi: Tem um quê de surf rock nesse som, mas honestamente achei bem chatinha.

Mairon: Chatinha é apelido. Se fosse sempre instrumental ainda passava.

Davi: kkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Mairon: Só a introdução salva ela.

Antônio: Esse vocal no fim salva ela. Final épico.

Mairon: Final épico?? Da onde??

Davi: A parte vocal desse som achei bem sem graça. O disco é bom, mereceria um final melhor.

Bernardo: Agora o mar de distorção acalmou e os surfistas sentaram na areia pra dar uma relaxadinha. Balada uptempo, com vocalizações etéreas de Kim Deal e Black Francis contrastando com a cozinha pulsante. Esse refrão é pra tirar de órbita!

Antônio: Acompanho o relator Bernardo.

Considerações Finais

Mairon: O disco é relativamente bom. Momentos inspirados e momentos que certamente influenciaram diversas outras bandas. Teria que ouvir os dois primeiros discos do Pixies para poder dar uma consideração mais embasada, mas de Bossanova, fica inegável que o Nirvana teve suas fontes no som do grupo. Não detestei, mas tão pouco será um disco que eu vá ouvir outra vez em breve, ou que me anime a comprar a coleção do Pixies.

Antônio: Um dos álbuns mais subestimados do Pixies, mas tem uma coisa nele. Seja as passagens vocais etéreas, seja o mix de guitarras pesadas e violõezinhos quase havaianos, ou um Black Francis mais apaixonado (por mulheres e por aliens), sei lá, mas faz do Bossanova o meu preferido. Ou talvez por nao ter tocado tanto quanto os outros.

Bernardo: Rapaz, feliz de ter feito esse War Room! Estou parecendo fumante que tentou largar o vício e voltou na fúria - já botei o Surfer Rosa pra rolar aqui! O clima multifacetado do Pixies, que viria a influenciar praticamente tudo que foi feito em matéria de rock nos anos 90, é envolvente e viciante por demais. Não gosto tanto de Bossanova quanto das obras primas Surfer Rosa e Doolittle, mas esse é um disco bem acima da média, com excelentes vocalizações de Francis e Deal, uma orgia guitarreira melódica, pesada e etérea sustentada pela cozinha cíclica, precisa e funcional. Sonoridade tão criativa e única que merece o status de culto que tem: banda tão singular assim não se vê todo dia.

Davi: Fazia muito tempo que não ouvia esse LP. Foi bacana ouvir de novo. Pixies é uma banda influente. tem composições bacanas, mas ainda gosto mais do Surfer Rosa.

Mairon: Essa é a pergunta, qual disco deve ser a iniciação ao Pixies? Bossanova não colou.

Antônio: Respondendo a tua pergunta, Mairon: Doolitle.

Mairon: Tem músicas de 10 minutos, pelo menos?

Antônio: Doolitle é o menos estranho e o mais Pop. Surfer Rosa e o EP que precede, Come on Pilgrim, são mais gritados e estranhos pros ouvidos sensiveis. Tromp Le monde ja está mais pesado e eles estavam se desmanchando entre brigas pelo poder criativo entre Kim Deal e o Francis.

Mairon: Buenas, era isso então gurizada. Valeu pelos comentários e pela parceria. Abraços.

Antônio: Abraços e me chamem mais vezes.

Davi: Valeu moçada. Abraços!

Antônio:  Vamos fazer um do gênio e melhor frontman da historia do rock: GG Allin!

Bernardo: Valeu rapazeada! E quem curtiu, dica: ouçam a banda solo da Kim Deal, The Breeders. Abraços!

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