domingo, 20 de julho de 2014

Captain Beyond



Na década de 70, três foram os grupos bandas que simbolizaram o rock pesado para  a eternidade: Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple. Dos galhos da longa árvore genealógica do último, surgiram inúmeras e poderosas bandas com o passar dos anos, algumas talvez com mais potência, talento, musicalidade e qualidades superiores ao parente famoso. Uma delas é o Captain Beyond.

Formado em 1971 pelo ex-vocalista do Deep Purple Rod Evans (o que foi substituído por Ian Gillan em 1969) junto dos americanos Larry "Rhino" Reinhardt (guitarras) e Lee Dorman (baixo), ambos ex-Iron Butterfly, além do baterista Bobby Caldwell, ex-Johnny Winter Band, o Captain Beyond marcou época com um álbum praticamente perfeito, símbolo do que era o Hard Rock setentista, mas foi além disso. 

Rod Evans, Jon Lord, Ritchie Blackmore, Nick Simper e Ian Paice (Mark I)

Antes de entrar na sua história, uma revisão no passado de cada um desses músicos é de extrema importância para compreendermos o por que da grandeza do Captain Beyond. Começamos então por Rod Evans. Sua história com o Deep Purple já narrei aqui, mas nunca é importante lembrar que junto aos ingleses, Evans registrou três álbuns: Shades of Deep Purple (1969), Book of Taliesyn (1969) e Deep Purple (1969), sendo covardemente despedido antes mesmo do lançamento do terceiro álbum.

Evans ficou tão put@ da cara que se mandou da Inglaterra, indo morar na ensolarada Califórnia, onde formou-se em Medicina, prometendo nunca mais voltar a pisar os pés na Terra da Rainha. Entre 1969 e 1971, o único contato com a música foi o lançamento de um raríssimo compacto promocional pelo selo Capitol, com as canções "Hard To Be Without You" / "You Can't Love a Child Like a Woman", até que veio o convite para ser o vocalista do Captain Beyond.


Capa erótica (acima) do primeiroe único  compacto (abaixo) de Rod Evans

A ideia da formação do Captain Beyond veio da dupla Dorman / "Rhino". O segundo apareceu ao mundo no final da década de 60, como membro do grupo The Thunderchiefs, de onde saiu para formar o embrião do gigante sulista The Allman Brothers Band, o The Second Coming, grupo de bastante renome na Flórida, principalmente na cidade de Jacksonville, berço de outro gigante sulista, o Lynyrd Skynyrd. No The Second Coming, "Rhino" permaneceu entre 1967 e 1968, saindo do mesmo para formar o The Load, grupo que durante 1969 dividiu os palcos com o The Allman Brothers Band, atravessando os Estados Unidos com muitos shows e sucesso, porém reativando o nome de The Second Coming.

Infelizmente para "Rhino", quando ele conseguiu acertar um projeto de gravação do primeiro álbum da The Second Coming, e até já havia feito as gravações do mesmo, o LP acabou sendo engavetado, e frustrado com essa situação, o guitarrista decidiu chutar o balde, encerrando as atividades de uma verdadeira promessa do Southern Rock e vivendo apenas como músico de estúdio.


Capa (acima) e parte interna de Metamorphosis,
álbum do Iron Butterfly com Lee Dorman e "Rhino" Reinhardt

Porém, no final de 1969, surge o inesperado convite do tecladista Doug Ingle e Lee Dorman para "Rhino" substituir Erik Braunn no Iron Butterfly, e ainda mais, formando uma dupla ao lado de Mike Pinera, o que veio a mudar drasticamente o som do Iron Butterfly, fugindo do hard psicodélico e pisando forte no hard setentista, mas quase progressivo, com o lançamento do excelente Metamorphosis (1970). Apesar de sua excelência, as mudanças sonoras não agradaram ao líder do grupo, Doug Ingle, que anunciou sua saída do Iron Butterfly em maio de 1971, durante uma turnê pela Europa, mais uma das diversas que o grupo fez por aquele continente.

Porém, apesar de tudo parecer bater contra "Rhino", sua estada no Iron Butterlfy rendeu uma amizade muito forte com Dorman. Além de um fantástico baixista, Dorman também tinha o talento de descobrir bandas, bem como seu carisma facilmente levava as gravadoras assinarem com nomes indicados por ele. Com o fim do Iron Butterfly, Dorman viu a oportunidade de lançar-se de cabeça em uma nova empreitada, e tendo o escudo de "Rhino" como auxiliar, decidiu lançar um ousado projeto musical, que misturaria a psicodelia californiana do final dos anos 60 com o crescente rock progressivo britânico.

Johnny Winter Band: Randy Jo Hobbs, Rick Derringer, Johnny Winter e Bobby Caldwell

Para as baquetas, "Rhino" sugeriu o nome de Bobby Caldwell. A carreira deste californiano começou quano ele ainda era adolescente, aos 14 anos, tocando em grupos da região dos crocodilos, como o Noah's Arc e o The New Englanders, até que foi chamado para integrar a banda de Johnny Winter no início dos anos 70. Porém, o recém-falecido Winter era um grande viciado em heroína, e em 1971, teve que dar um tempo em sua carreira, dedicando-se para um longo período de recuperação e desintoxicação. É nesse período que chega o convite da dupla "Rhino" / Dorman para Caldwell integrar o novo projeto planejado pelos ex-Iron Butterfly.

Caldwell saiu da Flórida e foi para a Califórnia, e em julho de 1971, há 43 anos, nascia o Captain Beyond, batizados pelo baixista Cris Squire (Yes), o qual chamou o som do Iron Buttlerfly pelo nome que deu origem ao então trio Caldwell, Dorman e "Rhino". Três semanas de ensaio foram suficientes para o trio perceber que faltava um vocalista. Ambos até que faziam vocalizações em seus antigos grupos, mas em nenhum momento tinham pinta e carisma para se aventurarem como vocalistas principais.

Em sentido horário: Lee Dorman, Rod Evans, Bobby Caldwell e "Rhino" Reinhardt

Por obra do destino, o trio acabou encontrando Rod Evans através de um antigo empresário do Iron Butterfly. Com pouca conversa e apenas uma única audição, o ex-Purple virou o frontman do Captain Beyond. Era a chance de ouro para Evans provar ao mundo quão valorosa era sua voz.

O grupo passou a ensaiar cinco dias por semana, das nove da manhã às cinco da tarde, durante muitos meses, concentrando-se somente em composições próprias, o que acabou fortalecendo bastante as sólidas construções musicais que o grupo apresentou no seu álbum de estreia meses depois. Um dos destaques ia para uma longa faixa de vinte minutos, que veio ser a fonte inspiradora para inúmeras canções lançadas pelo grupo.

O quarteto fez sua primeira apresentação oficial em 30 de abril de 1972, em uma insana apresentação durante o Montreaux Jazz Festival (Suíça) daquele ano. Depois, continuaram pela Europa, tocando na França e Reino Unido, tocando apenas em quatro datas nessa turnê: Montreux, o Olympia de Paris (abrindo o show do The Doors, sem Jim Morrison), Lancashire, em um show ao ar livre acompanhando Kinks, Hawkwind, Grateful Dead e outros nomes, e Londres, abrindo para o Faces.

Clássica imagem do Captain Beyond e sua primeira formação

Voltam para os Estados Unidos, onde fazem uma longa série de shows, abrindo para Alice Cooper, ZZ Top, Trapeze, Allman Brothers, entre outros, sempre com apresentações ensurdecedoras e inovadoras, principalmente pelos efeitos musicais das canções e a performance de palco enigmática de Evans, estático, apenas cantando e tocando sua percussão, praticamente indiferente ao apocalipse sonoro que o Captain Beyond levava para as plateias.

Com contrato assinado com a Capricorn Records, mesmo selo do The Allman Brothers Band,  não por acaso, já que o Captain Beyond havia sido indicação de Duane Allman, a banda foi para Hollywood, auto-produzindo-se no primeiro LP, o inigualável Captain Beyond, lançado em junho de 1972 no Reino Unido e julho do mesmo ano (há quarenta e dois anos) nos Estados Unidos.

Inigualável álbum de estreia do Captain Beyond e sua capa holográfica

Inquestionável! Perfeito! Inigualável! Incrível! É difícil achar um adjetivo que qualifique tão bem o quanto é a estreia do quarteto. Desde as batidas de Caldwell na introdução de "Dancing Madly Backwards (On a Sea of Air)" até as marcações precisas na conclusão de "I Can't Feel Nothin'", o quarteto dá uma aula de hard setentista para toda uma geração, grudando uma canção atrás da outra, como se fosse uma longa suíte de quase 40 minutos, que intercalam riffs pesadíssimos de baixo e guitarra, efeitos sonoros, a voz rouca e grave de Evans e uma bateria furiosa de um dos mais esquecidos bateristas do hard rock. 

Os solos de guitarra de "Rhino" são rasgados, carregados de sentimento misto entre raiva, emoçã o mas acima de tudo, a certeza de estar fazendo um disco único, com temas místicos e futuristas. São treze faixas, que formam cinco partes distintas, e impossíveis de se destacar qual a melhor, já que a fusão de todas elas torna o disco forte e coeso durante toda a audição. 

 "Dancing Madly Backwards (On a Sea of Air)", "Armworth" e "Myopic Void" constituem a primeira parte, apresentando o Captain Beyond ao mundo com riffs pesados e grudentos, solos rasgadíssimo na primeira, um capricho nas vocalizações (algo que Evans fazia muito bem com Nick Simper no Deep Purple) da segunda e uma viajante marcha especial na terceira, com "Rhino" delirando no slide, além de Evans mostrar que podia sim ser o líder vocal de uma banda como Deep Purple. Um trabalho redondo, muito bem ensaiado e construído, no qual não há em nada lembranças das antigas bandas dos integrantes, apenas novidades que saltam aos ouvidos nessa que é uma das principais canções do quarteto. Fecham o lado A outras duas partes do álbum, a sabbáthica "Mesmerization Eclipse" e a hendrixiana "Raging River of Fear", as quais apesar das influências citadas, possuem uma sonoridade exclusiva do Captain Beyond. 

Dorman, "Rhino", Evans e Caldwell

No lado B, os violões de "Thousand Days of Yesterdays (Intro)" são uma mera ilusão da pancadaria que vem na sequência, com as origens da NWOBHM de "Frozen Over" seguido das linhas jazzísticas de "Thousand Days of Yesterdays (Time Since and Gone)", uma demonstração da versatilidade musical desse quarteto, nas três componentes da quarta parte do álbum. 

Por fim, a quinta e última parte é resumida a partir de "I Can't Feel Nothin' (Part I)", apresentando o riff que retorna às linhas pesadas de "Dancing Madly Backwards (On a Sea of Air)", atravessando a viajante "As the Moon Speaks (To the Waves of the Sea)", o belíssimo trecho dedilhado e as arrepiantes vocalizações de "Astral Lady", que transformam-se suavemente em "As the Moon Speaks (Return)", detonante faixa que metamorfoseia-se em "I Can't Feel Nothin' (Part II)", com direito a uma espetáculo percussivo a la Santana proporcionado por todos os membros do grupo, para concluir soberanamente um dos Melhores Discos de Todos os Tempos, o qual somente ouvindo você poderá entender o que está escrito aqui. OBRIGATÓRIO!

Capa de Captain Beyond sem os efeitos holográficos


Além da incrível força deste álbum único, a linda capa holográfica original também chama a atenção, com o Captão Além movendo-se através de uma ilustração em 3D, obra do estúdio Pacific Eye & Ear (responsável pelas gloriosas capas de Long John Silver - Jefferson Airplane, Muscle of Love - Alice Cooper, Berlin - Lou Reed, From the Inside - Alice Cooper, entre outros) em colaboração com o artista gráfico Joe Garnett.

Infelizmente, o som futurista do Captain Beyond estava além da compreensão dos americanos na sua época, e o disco acabou fracassando em vendas. Em um show no Central Park de Nova Iorque, abrindo para o Sha-Na-Na, moedas e frutas foram jogadas na banda.

A Capricorn, insatisfeita com os números iniciais, se quer fez forças para alavancar os números, em um dos maiores descasos da música mundial, algo muito injusto, já que hoje, o álbum tornou-se uma raridade na sua versão original, e é extremamente cobiçado não só por sua raridade, mas pelo seu valor musical, sendo sem dúvidas um dos melhores lançamentos de todos os tempos (e eleito pelo site Consultoria do Rock como um dos dez Melhores Discos de 1972, na oitava posição.

Apesar de os números não renderem o esperado, os shows eram aplaudidos de pé, principalmente na costa oeste, onde o grupo abriu para Alice Cooper Gentle Giant e Black Sabbath (na mesma noite), Renaissance, Allman Brothers Band, entre outros. Porém, os problemas começaram a aparecer, e Caldwell acabou chutando o balde logo após o término da turnê, indo parar na banda do guitarrista Rick Derringer, com quem gravou o álbum All American Boy (1973).

Segunda formação do Captain Beyond:
Reese Wymans, Rod Evans, Lee Dorman e Marty Rodriguez (em pé)
“Rhino” (curvado) e Guille Garcia (sentado)

Brian Glascock substituiu temporariamente Caldwell, e como o grupo já ambicionava uma sonoridade mais percussiva, o cubano Guille Garcia foi chamado para incrementar a parte percussiva do grupo, tocando congas. Com a adição dos teclados de Reese Wynans, o Captain Beyond saltava de quatro para seis integrantes, e pronto para as gravações do novo LP.

Pouco antes das gravações, a Capricorn exigiu que o álbum só sairia se fosse produzido por Giorgio Gomelski, o qual por sua vez só assinaria contrato com a condição de que Glascock fosse substituído. A condição foi aceita, e com o cubano Martin Rodriguez no lugar de Glascock, começam as gravações de Sufficiently Breathless.

Mas como toda a história do Captain Beyond, mais problemas apareceram. Completamente insatisfeito com os caminhos que o grupo estava tomando, Evans abandonou as gravações, sem avisar ninguém. Foi com muito esforço que Dorman e "Rhino" convenceram Evans a concluir suas partes para o álbum, lançado em 1973.

Segundo álbum do grupo

Se você achava que os problemas haviam acabado, pelo contrário, haviam apenas começado. Insatisfeito com os caminhos tomados por Dorman e "Rhino", e principalmente com o novo empresário, Evans abandonou a barca no meio das gravações, sem avisar ninguém, e só com muita conversa aceitou concluir as partes vocais de Sufficiently Breathless, um álbum bastante diferente em relação ao seu antecessor, a começar pela suavidade acústica da faixa-título, ou as climáticas passagens vocais e dos sintetizadores de "Starglow Energy",  que com a ajuda das percussões e do órgão de Paul Hornsby, levou o Captain Beyond para um outro patamar, em canções mais suaves, sem a fúria despejada no seu antecessor, mas ainda assim impecáveis. 

Peça para um amigo adivinhar quem está tocando em "Drifting In Space" e duvido que ele não responda Santana, já que esta é a canção mais Santana que o Santana nunca gravou, carregada na percussão, no piano elétrico e nas linhas agitadas de baixo e guitarra, ou ainda "Everything's a Circle" e "Distant Sun", a primeira uma balada impossível de não lembrar a banda do guitarrista mexicano, seja pela linha de baixo ou claro, pela sedutora parte percussiva ou pela velocidade instrumental no trecho central da canção, e a segunda um psicodélico bolero alternando entre uma pegada enraizada no hard e as deliciosas passagens perfeitas para dançar com a companheira. 

Contra-capa de Sufficiently Breathless

"Bright Blue Tango" parece ter saído de algum disco do flower-power californiano, tanto pela presença do piano quanto pela simplicidade e os efeitos da guitarra, e é uma das poucas a não contar com a presença das percussões, enquanto"Evil Men" possui uma marcante linha percussiva, apesar da canção ser bem mais suave, quase dançante. Ainda há espaço para a curta e enigmática viagem instrumental de "Voyages of Past Travellers", com vocalizações sinistras que parecem ter inspirado o trio canadense Rush em "The Necromancer" (Caress of Steel - 1975). 

Hoje, Sufficiently Breathless começa a ganhar status de importância, principalmente por que ele é realmente muito bom. O problema é que muitos comparam-no com seu antecessor, uma tarefa impossível pelas diferentes histórias e formações de ambos. O fato é que, relegando o passado do Captain Beyond até então, Sufficiently Breathless vale a pena ser ouvido com carinho, já que a cada audição, mais sabor ele vai ganhar para seus ouvidos.

Enquanto a dupla-Butterfly pretendia cair na estrada para divulgar Sufficiently Breathless, Evans afastou-se ainda mais. O único show como sexteto ocorreu em Fresno, na Cailfórnia, abrindo para o Electric Light Orchestra e diante de apenas 250 espectadores. Logo após, Wynans abandonou a barca.

Porém, do nada Evans decidiu continuar com o grupo, e Bobby Caldwell também retornou para as baquetas. Com a formação original, o grupo caiu na estrada novamente, apresentando Captain Beyond na íntegra e diversas faixas de Sufficiently Breathless

Os shows tornaram-se bastante concorridos, abrindo para Ted Nugent, King Crimson, Jethro Tull, entre outros, e não pararam de crescer. Em Chicago, quando o grupo abriu para o Quicksilver Messenger Service, haviam de 5000 pessoas. Dias depois, no Texas, 8000 pessoas presenciaram talvez o maior show da carreira do Captain Beyond, abrindo para o Wishbone Ash. 

Terceira formação: Lee Dorman, "Rhino" Reinhardt, Jason Cahone e Bobby Caldwell
No dia 31 de dezembro de 1973, infelizmente Rod Evans largou a música de vez, afastando-se definitivamente de qualquer fato ligado ao Captain Beyond, de maneira totalmente inesperada. Dorman seguiu seu trabalho como produtor e engenheiro da Warner Bors., enquanto "Rhino" gravou com o vocalista Bobby Womack, enquanto Caldwell montou o excelente projeto Armageddon, ao lado de Keith Relf (Yardbirds), Martin Pugh (guitarras) e Louis Cennamo (baixo). O grupo lançou um único e perfeito disco em 1975, no mesmo nível do álbum de estreia do Captain Beyond, mas infelizmente, Relf morreu eletrocutado em 1976.

Com a morte de Relf, surge o convite da Warner Bros. para Caldwell reformular o Captain Beyond. O baterista contatou "Rhino" e Lee Dorman, que aceitaram prontamente retornar à ativa, mas as tentativas de encontrar Rod Evans foram todas frustradas. O novo vocalista torna-se Jason Cahone, que chegou a fazer algumas apresentações, sendo rapidamente substituído por Willy Daffern. Com essa formação, gravam o terceiro álbum de estúdio, Dawn Explosion, lançado em 1977.

Último álbum de estúdio

A voz grave de Daffern pode assustar ao fã de Rod Evans, mas o fato é que a escolha ficou de bom tamanho para o que o quarteto apresentou no terceiro e último álbum de estúdio. Saindo das raízes pesadas, Dawn Explosion apresenta um hard rock bem característico com o final dos anos 70, mesclado com baladas pop que tão pouco tiram  a qualidade de um disco que, apesar de abaixo dos seus antecessores, não é desprezível. 

"Icarus", candidata a segunda melhor do LP, tem seu riff claramente saído de "Dancing Madly Backwards", já que ambas pertenciam a uma longa suíte de vinte minutos que o grupo ensaiava logo nas suas origens. As duas partes de "Breath of Fire" também lembram um pouco as origens do grupo, principalmente por conta da guitarra de "Rhino", assim como "Fantasy, com seu riff poderoso de baixo e guitarra, e uma forte interpretação vocal. 

Willy Daffern, Bobby Caldwell, "Rhino" Reinhardt e Lee Dorman

Dawn Explosion também abre espaço para pequenas viagens musicais, através das três partes instrumentais de "Space", constituídas de "Space Interlude", vinheta apenas com barulhos, "Oblivion", solo furiosíssimo feito por "Rhino", e "Space Reprise", com os mesmos barulhos de "Interlude". 

Só essa tríade já vale a aquisição do LP, que ainda tem "Do or Die", uma ótima faixa para abrir um show, com um ritmo empolgante e um clima bastante up, as vocalizações de "Midnight Memories", com seu riff a la "Little Wing" (Jimi Hendrix), e uma bonita introdução de harmônicos na balada "Sweet Dreams", que traz uma agradável sensação aos ouvidos, e um belíssimo solo de "Rhino". Dawn Explosion foi um fracasso de vendas nos Estados Unidos, e curiosamente, saiu-se bem no Canadá. 

O famigerado New Deep Purple (Rod Evans à direita)

Os fortes problemas de drogas dos integrantes acabaram levando ao fim do mesmo. "Rhino", Dorman e Caldwell viraram peregrinos no rock, e vez por outra faziam reuniões relâmpago do Captain Beyond, principalmente no final da década de 70, fazendo alguns shows abrindo para o também reformulado Iron Butterfly de Erik Brann, com Dorman e Caldwell tocando em ambas as bandas.

Nesse período, ficou marcado na história justamente daquele que ninguém se esperava, Rod Evans. O músico resolveu encarar uma proposta de trabalho na qual resgatava o Deep Purple, sob o pseudônimo New Deep Purple, em uma ideia maluca que acabou levando-o para um dos maiores vexames de todos os tempos, e um pagamento de indenização no valor de 672 mil dólares, que destruiu com a vida de Evans, o qual, depois desse fiasco, nunca mais ouvimos falar do nome.

EP de retorno nos anos 2000

Surpreendendo à todos, o Captain Beyond voltou no final dos anos 90, trazendo na formação dois integrantes originais, "Rhino" e Caldwell, além de Jeff Artabasy (baixo), Dan Frye (teclados) e Jimi Interval nos vocais. O grupo se apresentou na edição de 1999 do Sweden Rock Festival, e depois de uma curta temporada de shows, em 2000 lançam o EP Night Train Calling, o qual possui uma sonoridade fortemente anos 80, apesar de ser gravado 20 anos depois. 

"Gotta Move" marca essa sonoridade, principalmente pelo ritmo da bateria, e impossível de ser pensada nos álbuns iniciais do grupo, mas tem seus bons momentos, principalmente no solo de wah-wah de "Rhino", assim como a balada de Sessão da Tarde "Don't Cry Over Me", na linha de grupos tradicionais do AOR como Survivor ou Red Speedwagon. "Be As You Were" é um boogie moderno na linha de grupos como o ZZ Top fizeram em um passado recente, e "Night Train Calling (Crystal Clear)" torna-se a principal canção desse bom EP, diferente do esperado para os álbuns do Captain Beyond, mas que pelo menos acalmou a ânsia dos curiosos fãs que sempre seguiram o grupo desde a década de 80.

Uma série de shows marcou o fim da banda, com a última apresentação sendo realizada em 28 de julho de 2001. Em 2003, "Rhino" descobriu que estava com câncer, e desiludido, acabou desmanchando o grupo para fazer um tratamento de recuperação. A última apresentação do Captain Beyond foi em 28 de julho de 2001. "Rhino" continuou tocando sua carreira solo enquanto tentava se recuperar, mas infelizmente, faleceu em 2 de janeiro de 2012. Em dezembro do mesmo ano, Lee Dorman nos deixou. Rod Evans tornou-se médico, e vive na Califórnia.

Rod Evans e "Rhino" Reinhardt ao vivo

Dia após dia, mais e mais fãs aprendem a valorizar a potência da música gerada pelo Capitão Além, e vamos comemorar os quarenta anos de seu álbum de estreia após essa pequena homenagem.

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