terça-feira, 19 de novembro de 2013

Illusion



O Illusion é um obscuro grupo que durou apenas dois anos, mas os quais são significativos para os amantes do rock progressivos. O grupo lançou dois álbuns nesse período, e ainda chegou a registrar um terceiro disco, que foi lançado mais de dez anos depois. Quase vinte anos após seu fim precoce, o grupo ressurgiu das cinzas com o quarteto principal, formado por Jane Refl (vocais), Jim McCarty (vocais, violões), John Hawken (teclados, piano, mellotron, órgão, sintetizadores) e Louis Cennamo (baixo), para lançar mais um último disco. Na formação original.

O quarteto citado foi o responsável, junto com o vocalista e guitarrista Keith Relf, pela criação de um dos maiores grupos do rock progressivo, o Renaissance, que veio a fazer fama com os vocais de Annie Haslam e com as letras de Michael Dunford. 

Primeira formação do Renaissance: Keith Relf e John Hawken (acima)
Louis Cennamo, Jim McCarty e Jane Relf (abaixo)

O segundo disco do Renaissance, Illusion, acabou batizando o novo grupo, que foi fundado em 1977 como forma de homenagear a Keith Relf, que havia falecido em 14 de maio de 1976, enquanto tocava guitarra em sua casa. Relf era o idealizador do resgate da formação original do Renaissance (com ele e os quatro citados), e já estava preparando um novo material quando veio a falecer, deixando para sua irmã, Jane Relf, manter o legado e as belas músicas criadas pelo grupo.

A origem do Illusion está em 1975, quando Keith, após encerrar prematuramente as atividades do excepcional Armageddon, convida McCarty para reviver os anos de Renaissance, ao lado de Jane e Cennamo. Hawken foi o último nome a aparecer, e logo começaram os ensaios na casa de McCarty, em Molesey. Uma demo chegou a ser registrada, mas inesperadamente, a morte de Keith destruiu os planos inicias.

John Hawken, Jane Relf, Jim McCarty, Louis Cennamo, John Knightsbridge e Eddie McNeil

Porém, mesmo com o abalo da perda do principal nome do grupo, o quarteto remanecente decide seguir os trilhos que haviam traçado, e com o quarteto acompanhado de John Knightsbridge (guitarras) e Eddie McNeil (bateria), retornam ao ritmo de composições e registros. Em julho de 1976, gravam mais uma demo tape, que é divulgada para diversas gravadoras, dentre elas, a Island Records, responsável pelo material da Renaissance, e que fornece um contrato ao grupo, ainda sem nome.

Fazem uma pequena série de shows, ainda sem nome, até que  gravam o primeiro registro. É aqui que surge o nome Illusion, dado em consequência do segundo álbum da Renaissance, Illusion, lançado em 1970 com a formação que agora fazia parte do Illusion. 

A estreia do Illusion

O Illusion abriu os shows de Brian Ferry pelo Reino Unido e países da Europa no ano de 1978, mesmo ano do lançamento de Out of the Mist, lançado através de uma subsidiária da Island, a Edsel Records,

Certamente, os fãs de Renaissance vão reconhecer o estilo musical do grupo nesse belíssimo disco. McCarty e Relf dividem os trabalhos vocais, e as construções são semelhantes ao que o quinteto inovou no final da década de 60 com a criação do grupo Renaissance, porém com a guitarra ganhando um pouco mais de destaque, graças ao talento de Knighstbridge.

O estilo clássico se mistura com o pop e o rock de forma soberba, como ouvimos logo na abertura, em "Isadora" (vocais de McCarty). Jane mostra sua potente voz na pop "Roads to Freedom" e na emocionante "Beautiful Country", com seu arranjo de piano, baixo e bateria e uma arrepiante participação do moog.  Peso e efeitos da guitarra aparecem em "Solo Flight", destacando o poderoso baixo de Cennamo e encerrando o lado A com um saldo positivo.

O grupo na época de Out of the Mist

No lado B, "Everywhere You Go", a mais Renaissance de todas as canções de Out of the Mist, mostra mais uma vez as qualidades vocais de Jane, enquanto a linda "Face of Yesterday", uma recriação para a mesma canção que aparece em Illusion, destacando o arranjo de piano e os vocais de Jane, colocam-na como forte candidata a Maravilha Prog.  O ponto máximo vai para o encerramento do LP, com "Candles are Burning", uma locomotiva sonora empregando moog, piano, o cavalgante acompanhamento de baixo e bateria e o delicioso duelo vocal entre McCarty e Jane, deixando o refrão da canção encrustado na sua mente por dias.

Muitos acabaram torcendo o nariz para a semelhança entre o Illusion e o Renaissance, mas, se você gosta do segundo, certamente vai curtir o primeiro sem problemas nenhum.

Mais uma série de shows pela Europa, e a grata surpresa de Out of the Mist ficar entre os sem mais vendidos nos Estados Unidos. Obviamente, a Island pressiona o grupo para mais um lançamento, e então, ainda em 1978, Illusion chegou às lojas, com a produção do ex-Yardbirds Paul Samwell-Smith.

O último LP lançado pelo grupo

Illusion é um disco mais pop que seu antecessor, fugindo um pouco das características clássicas. O disco abre com a canção mais conhecida do sexteto, "Madonna Blue", com bastante destaque para o piano, seguida pela acústica "Never Be The Same", agora com os vocais de McCarty chamando a atenção. "Louis' Theme" é uma triste canção somente com piano e vocais se exibindo sobre o dedilhado do baixo, e o lado A encerra-se com a linda "Wings Across the Sea", aonde os vocais de Jane sobressaem-se, e contando ainda com um majestoso trabalho de Hawken,

No lado B, os sintetizadores e eletrônicos de "Cruising Nowhere" apresentam uma faixa mais rock do que espera-se de um álbum ligado a Jane e cia, enquanto a viajante "Man of Miracles" faz o ouvinte delirar, sendo esta uma das últimas composições de Keith Relf. O álbum encerra-se com a épica "The Revolutionary", com McCarty dando show no violão e Hawken arrasando nos sintetizadores e efeitos, nessa que talvez seja a melhor canção do grupo.

A mistura entre momentos acústicos (piano e violões) com o andamento característico do baixo e bateria está conservada em todo o álbum, mas Illusion abre espaço para exposições individuais. O disco acaba comprovando que o Illusion era uma das bandas mais talentosas de sua época, mas infelizmente, o grupo sucumbiu ao período em que o punk e a disco music tomaram conta das paradas musicais, encerrando suas atividades precocemente.

O álbum apresenta ainda uma linda arte criada pela produtora Graves / Aslet Associations, fácil uma das mais belas da história do rock progressivo.


Foto promocional da época de Illusion

Por razões até hoje desconhecidas, Illusion acabou não saindo nos Estados Unidos, o que decepcionou bastante o sexteto. O segundo álbum não emplacou no Reino Unido e na Europa, e após registrarem mais algumas canções, para o que seria o terceiro disco do grupo, decidem encerrar as atividades, com McCarty remontando parte do Yarbirds sob o pseudônimo de Box of Frogs, e em seguida, o Stairway, ao lado de Cennamo, além de uma carreira solo em paralelo. Knebsworth participou do grupo Ruthless Blues, e os demais, praticamente abandoram a música, com exceção de Jane, que vez ou outra apareceu em participações especiais em diversos discos.

No ano de 1992, uma coletânea não-autorizada, chamada Offshoots, foi lançada, trazendo gravações ao vivo da primeira formação do Renaissance e duas canções de Jane Relf lançadas somente em compacto, além de outras raridades relacionadas aos membros da banda.

Raridades do Illusion, lançadas em 1996

Em 1996, através de um esforço coletivo de Jim McCarty e Jane Relf, as demos registradas em 1979 são finalmente lançadas, sob o título Enchanted Caress

O sexteto continua intacto, e há uma modificação apenas na faixa instrumental "Slaughter on Tenth Avenue", com Knightsbridge solando acompanhado pelos músicos do Strawbs, Chas Cronk no baixo e Tony Fernandez na bateria.

As canções são mais curtas, caracterizando o final dos anos 70, algumas até com um clima dançante, como é o caso de "Walking Space", "Getting into Love Again" e "Crossed Lines", que enaltecem o amor e o relacionamento feliz entre casais. Nessa levada, "Nights in Paris" é certamente a melhor.

O disco não é todo flores, até pelos deslizes de "As Long as We're Together" e "Living Above Your Head". Por outro lado, o baixo de Cennamo se destaca em "You Are the One", e a voz de Jane se sobressai na bonita "The Man Who Loved the Trees". O momento mágico do álbum vai para "All the Falling Angels", última canção que registra a voz e violão de Keith Relf dias antes de sua morte, acompanhado apenas por bateria e baixo e o mellotron.

Versão americana (acima) e a versão japonesa (abaixo)
de Enchanted Caress

A versão americana e japonesa de Enchanted Caress trazem como bônus "Roads to Freedom" e "Face of Yesterday", em suas versões originais. As capas também forma lançadas com imagens diferentes. A capa aqui apresentada é a da versão inglesa, e você pode encontrar a versão americana e a versão japonesa. É um trabalho muito cru, mas que, se fosse levado até o fim, poderia ter gerado um disco de melhor valor musical.

Cinco anos depois, Through the Fire reuniu Jim McCarty, Jane Relf, John Hawken e Louis Cennamo, sob o pseudônimo de Renaissance Illusion. Contando com uma série de convidados (John Idan, violões; Ravi, percussão, Jackie Rawe, vocais; Mandy Bell, vocais; Emily Burridge, violoncelo; Dzal Martin, violões, Gary Le Port, violões; Jonathan Digby, violões; Danny Relf, sintetizadores; e Ron Korb, flautas), tendo todas as composições escritas e cantadas por McCarty, esse é um daqueles álbuns que se não empolga, também não é de se jogar fora.

A faixa de abertura, "One More Turn of the Wheel" é uma entusiasmante amostra do que está contido em Through the Fire, principalmente pela seu andamento oriental e as experimentações com piano e sintetizadores. O piano na verdade é o grande destaque do álbum, e cativa nas faixas "Beyond the Day" (belo dueto vocal entre McCarty e Jane), "Blowing Away", "My Old Friend" e "Beat of the Earth", essa a melhor canção do álbum.

O retorno do quarteto, como Renaissance Illusion

Na parte acústica, "Mystery of Being" é a única representante, sendo que esta seria anos depois regravada pelos Yardbirds no álbum Birdland (2003). O maior deslize vai para "Glorious One", cujas vocalizações no início da canção soam muito irritantes, e aqui, encaixam-se "Good Heart" e também o pop acessível da faixa-título. Ainda temos a curta vinheta "Through the Fire (Reprise)", que encerra os trabalhos do Renaissance Illusion.

Talvez se Jane não ficasse tão à sombra de Jim, a coisa poderia ter funcionado diferente. Mas é um bom disco, e vale para a coleção certamente, afinal, depois de várias audições, você pega o espírito do mesmo.


Um dos melhores grupos de Rock Progressivo

Depois de Through the Fire, o grupo fechou as portas, com cada um dos integrantes afastando-se definitivamente da música, com exceção de McCarty, que retornou para os Yardbirds e mantém uma carreira solo, lançando álbuns espaçadamente. Em 2002, o álbum Live + Direct chegou às lojas sob o nome do Renaissance, trazendo demos e várias apresentações do Illusion em 1976, além de canções ao vivo da formação original do Renaissance, registradas em 1970.

O sexteto deixou saudades, e apesar das comparações com o Renaissance de Annie Haslam, ficou o recado de quem havia criado aquele estilo haviam sido o quarteto original.

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