segunda-feira, 24 de junho de 2013

David Bowie: The Next Day [2013]



Dez anos de espera. Esse foi o tempo que os fãs de um dos maiores gênios da história esperaram para poder ouvir e sentir com relação as emoções, letras e música de David Bowie. Nesse longo período, muitos fatos ocorreram na vida do músico, cantor e compositor inglês.

Em 16 de setembro de 2003, Bowie lançou Reality, vigésimo terceiro álbum de estúdio, continuando uma nova fase na sua carreira camaleônica, que o colocou novamente entre os mais vendidos nos Estados Unidos com canções inspiradas na nova era do rock, sem abuso de eletrônicos e tendo a sua voz como principal instrumento. Essa nova fase de Bowie havia começado quatro anos antes, através de Hours ... (posição quarenta e sete na Billboard) e seguiu com o ótimo Heathen (décimo quarto nos Estados Unidos), e claro, Bowie continuava soberano (apesar de não figurar no topo) nas paradas britânicas, chamando atenção com três grandes discos e resgatando sua credibilidade, a qual foi queimada nos anos 90 com projetos fracassados (o incompreendido grupo Tin machine e os fracos álbuns eletrônicos Black Tie, White Noise -1993, Outside - 1995, e Earthling - 1997).
David Bowie

Bowie saiu em turnê pelo mundo durante o ano de 2004, sendo assistido por mais de setecentas mil pessoas, até que durante o Hurricane Festival, em 25 de junho daquele ano, o camaleão começou a sentir fortes dores no peito, causada por uma artéria entupida que levou-o para uma angioplastia, realizada na cidade de Hamburgo logo em seguida.

A indecisão pairou sobre os fãs. Primeiro: Bowie poderia seguir em turnê? Essa resposta foi obtida rapidamente, com todos os shows restantes sendo cancelados. Segundo: Bowie iria lançar discos? Bowie respondeu em 08 de fevereiro de 2006 que talvez sim, mas seu ritmo de trabalho iria diminuir. E foi o que ocorreu. Raras foram as aparições do camaleão a partir de então, e muitos chegaram a cogitar que ele teria se aposentado para a música.

Até que no dia 08 de janeiro desse ano, quando completou sessenta e seis anos, Bowie anunciou que estaria lançando um novo álbum, e liberou o single de "Where Are We Now?". Os fãs entraram em polvorosa. O camaleão estava vivo, e mais vivo do que nunca. Veio o vídeo de "The Stars (Are Out Tonight)" em 26 de fevereiro, e a expectativa cresceu, pois as duas canções faziam por merecer toda a crítica positiva que imprensa e fãs destacavam.

08 de março e The Next Day tomou conta das lojas mundiais, e a espera de dez anos valeu muito a pena. Com quatorze canções, Bowie, em parceria do eterno amigo Tony Visconti, nos leva por um espetáculo sonoro de quase uma hora de duração, que nos remete para o final dos anos 70, por vezes peregrina nos anos 80 e raramente faz menções aos anos 90. Certamente, os álbuns Diamond Dogs, Lodger e Scary Monsters (and Super Creeps) são aqueles que mais podemos encontrar semelhanças, mas em uma incrementação moderna, diferente dos mesmos, a começar pela fantástica faixa-título, um riff grudento e uma levada envolvente, que se intensifica com a quebrada "Dirty Boys", cuja mistura de saxofone, guitarras e efeitos na voz de Bowie sugerem uma influência (tímida) no King Crimson de Lizard.

É impossível não sentir os efeitos das vocalizações e o andamento de "The Stars (Are Out Tonight)", com um belíssimo arranjo de cordas, e Bowie soltando a voz, transmitindo emoção como só ele consegue fazer, e se você acha que "Love is Lost" é uma balada mela-cuecas, irá se surpreender com as passagens de teclados, tocados pelo próprio Bowie. Já "Where We Are Now?" entra nas listas de melhores baladas já gravadas por Bowie, em um nível abaixo da linda "Wild is the Wind", mas com o mesmo poder de levar as lágrimas, assim como "Valentine's Day", outra balada perfeita para se aninhar no cangote da amada em um dia frio.
The Next Day em vinil

A partir de "If You Can See Me", o disco muda, tornando-se muito melhor do que já estava, sendo esta esquizofrênica e estranhíssima, com efeitos na voz de Bowie e um ritmo avassalador, enquanto "I'd Rather to be High" possui um refrão hipnotizador, que fica por dias em nossas mentes. "Boss Of Me" soa preguiçosa e em uma linha caracteística do que o Smashing Pumpkins fez nos anos 90. Já "Dancing Out in Space" é a mais oitentista, com um andamento quadrado da bateria, mas com efeitos na guitarra que lembram ""Heroes"", e novamente, com os vocais de Bowie sendo o destaque.

A reta final é uma mescla de anos 70, 80 e 90. "How Does the Grass Grow?" é impossível de definir. Os vocais sobrepostos são dos anos 90, enquanto os sintetizadores saíram de algum álbum dos anos 80, mas a guitarra do encerramento só pode ser dos tempos de Diamond Dogs. Guitarra distorcida é o que não falta no riff pesado de "(You Wil) Set the World on Fire", uma mistura de "Cat People" com "Red Sails", só que quase um hard setentista que se candidata a melhor canção do disco (ao lado de "Dancing Out in Space).

O ritmo hard é aliviado com a acústica "You Feel So Lonely You Could Die", tendo mais um belo arranjo de cordas, e The Next Day encerra-se com "Heat", uma espécie de sequência para a clássica "Warszawa", somente com o violão e uma marcação percussiva acompanhando longos acordes de sintetizador, e a voz grave de Bowie aquecendo e deliciando os corações dos fãs, como um bom Cabernet Sauvignon, só que aqui, com sessenta e seis anos aprimorando seu sabor.
Bowie, um Cabernet Sauvignon - 66 anos

Os japoneses foram beneficiados com uma faixa bônus, "God Bless the Girl", e The Next Day também recebeu um lançamento em vinil duplo (com o CD original de brinde) e uma versão DELUXE com três bônus: "So She", "Plan" e "I'll Take You There". Até o presente momento , o álbum já vendeu mais de um milhão de cópias em todo o mundo, sendo que na primeira semana, apenas no Reino Unido, vendeu 94.048 cópias. Com o passar das vendas, The Next Day foi primeiro em dezoito países (entre eles Reino Unido, Alemanha, Argentina, Bélgica e Irlanda), foi segundo nos Estados Unidos e quinto no Japão, provando que os fãs estavam realmente ávidos pela música de Bowie.

Em um ano que a maioria da imprensa especializada tem destacado (e com razão) 13 do Black Sabbath como melhor lançamento, eu já tenho meu favorito. The Next Day além de ser muito mais honesto, possui a voz impecável de Bowie, algo que o comedor de morcegos Ozzy Osbourne infelizmente abandonou em meados dos anos 80.

Agora é esperar para ver se os palcos irão ter a oportunidade de conferir as canções desse majestoso álbum, apesar de Bowie insistir em negar-se para fazer uma turnê novamente. 

Track list

1. The Next Day

2. Dirty Boys

3. The Stars (Are Out Tonight)

4. Love is Lost

5. Where We Are Now?

6. Valentine's Day

7. If You Can See Me

8. I'd Rather Be High

9. Boss of Me

10. Dancing Out in Space

11. How Does the Grass Grow?

12. (You Wil) Set the World on Fire

13. You Feel So Lonely You Could Die

14. Heat

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