sábado, 24 de abril de 2010

SBB


O trio que revolucionou o rock polonês, se tornando o principal representante do rock daquele país. Este é o SBB. Com uma longa carreira, o trio foi eleito como a melhor banda de todos os tempos da Polônia, e não é a toa. A história da SBB divide-se em dois blocos, o primeiro deles quando a banda fez sucesso escondido atrás da cortina-de-ferro e o segundo quando a Alemanha ocidental revelou o grupo para o mundo.

O que vou contar é o desenvolvimento da carreira do grupo ainda sob os pesados panos da cortina de ferro, e que teve início em 1971, na histórica Silésia, uma importante região localizada entre a Polônia e a República Tcheca (antiga Tchecoslováquia), mais precisamente na cidade polonesa de Siemianowice Slaskie. O grupo era liderado pelo sensacional músico Józef Skrzek (teclados, baixo, harmônica e voz), o qual ganhou notoriedade na Polônia graças a uma importante passagem no grupo Breakout, onde gravou o bom álbum 70A (1970).
Após sair do Breakout, Józef decidiu que iria ampliar seus horizontes, tentando aproveitar a onda do progressivo que crescia na Europa Ocidental, e assim, resolveu investir nos já consagrados power-trios, inspirando-se em grupos como o Experience de Jimi Hendrix, Cream e Taste. Assim, convoca o guitarrista Apostolis Anthimos (um garoto de apenas 17 anos, mas que tocava com uma experiência de 40, segundo Józef) e o baterista Jerzy Piotrowski, e com os primeiros ensaios, surge o nome do grupo, uma homenagem à região onde o trio morava, Silesian Blues Band.

 
O trio passou a participar com regularidade em shows pela Região da Silésia, tocando na Alemanha Oriental, Polônia e Tchecoslováquia, além de apresentar-se em rádios da região. Graças ao talento principalmente de Józef e Apostólis, ganham notoriedade principalmente pelos nativos da Silésia, já que o nome do grupo era um forte apelo comercial para angariar fãs.



A estreia vinílica da SBB ao lado de Niemen


Próximo ao fim de 1971, a banda é adotada pelo cantor polonês Czesław Niemen, com quem gravaram quatro álbuns em apenas 18 meses: Strange In This World (1972), Ode To Venus (1973), Niemen Vol. 1 e Niemen Vol. 2 (ambos de 1973), aumentando ainda mais a popularidade do grupo, com destaque total para o baixista Józef. Ao lado de Niemen, a Silesian Blues Band fez uma excursão pela europa, tendo como auge uma apresentação no Rock and Jazz Now Festival de Munique (Alemanha).

 
No verão de 1973, a Silesian Blues Band separa-se de Niemen, que agora funda a Niemen Aerolit, enquanto que o trio muda de nome, adotando a sigla SBB, que poderia ser usada para Silesian Blues Band, mas aqui, significava Szukaj, Burz, Buduj (ou Busque, Quebre e Construa), a qual foi ideia do patrono do grupo, Franciszek Walicki.



O sensacional álbum de estreia, gravado ao vivo

Como SBB, o grupo estreia oficialmente em 4 de fevereiro de 1974, partindo então para uma série de shows pela Polônia. Os shows de 18 e 19 de abril no Stodoal Club, em Varsóvia, foram registrados, e acabaram se tornando o primeiro álbum da banda, um dos mais incríveis álbuns de estreia de todos os tempos. SBB, lançado ainda em 1974, abre com o espetacular blues "I Need You Baby", somente com Józef no piano e vocais. Tendo uma longa introdução ao piano, a faixa se destaca pelo sentimento que Józef coloca em cada nota, e também na emocionante interpretação vocal desta que é uma das faixas mais "acessíveis" da banda.

A partir de então, Józef apresenta Piotrowski, e a pauleira começa a pegar, com "Odlot (Piosenka Odleciec z wami)" tomando conta de todo o resto do lado A. Sem ser chata ou preguiçosa, "Odlot" começa justamente com um rápido solo do baterista, seguido pelo tema de baixo e guitarra e vocalizações de Józef. A guitarra dedilha enquanto Józef começa seu solo no baixo utilizando-se de vocalizações e dos vibratos e botão de volume. Cantando em polonês e de forma agonizante, a canção vai se desenvolvendo com o dedilhado de Apostolis e o acompanhamento de Piotrowski. Após essa parte inicial, começa a parte instrumental, primeiro com um solo de Apostolis no canal esquerdo, sempre acompanhado pelo baixo e bateria de forma cadenciada no canal direito. A música vai crescendo junto com o solo, que é recheado de wah-wah e efeitos bem interessantes, até chegar em uma virada de bateria que muda totalmente a canção.

O ritmo muda, pegando um pique muito rápido da bateria, e Józef começa a mostrar porque foi eleito vários anos seguidos como o melhor músico da Polônia. A distorção no baixo é o que mais assusta no solo de Józef, que bate nas cordas e toca o baixo como se fosse uma guitarra, arrancando notas e sustains praticamente impossíveis de serem reproduzidos. Aos admiradores de Cliff Burton, recomendo que ouçam o que Józef faz em "Odlot", pois a velocidade das escalas que o baixista executa é realmente assombroso.

E isso não é nada! A bateria da mais uma virada, e "Odlot" torna-se um pesadíssimo funk, regado pela levada de Piotrowski, que mantém o ritmo para Józef e Apóstolis travarem uma batalha sem dimensões entre baixo e guitarra. Se não fosse a distinção dos canais, seria impossível dizer onde é guitarra e onde é baixo, tamanho os efeitos e velocidade que ambos utilizam. A sequência é matadora, com um tentando repetir o que o outro faz, de forma sensacional e numa precisão incrível, que é aplaudida em massa pela plateia, a qual ovaciona bastante nessa parte. Após o duelo, Apostolis faz mais um viajante solo, empregando harmônicos e volume, com a canção diminuindo o pique, até chegar ao seu fim. 



Józef Skrzek em ação

O lado B é reservado apenas para "Wizje (Piosenka Erotik)", outro petardo, que começa com Józef agonizando no baixo, mandando ver em um belo solo, onde usa de um arco de violoncelo para então entrar em uma complicada sequência de escalas. Para aqueles que acham que é uma guitarra, não, é o baixo mesmo o que estão ouvindo, com todos bends e sustains possíveis! Józef larga o baixo e assume o piano, e assim, entram os pratos da bateria para acompanhar outro belo trabalho do músico ao piano, que executa um lindo tema seguido pelo slide de Apostolis.

O triste vocal de Józef é de chorar, com um belíssimo arranjo da dupla Józef/Apostólis. Essa longa parte estende-se até Józef voltar a solar, entrando então na segunda parte da canção, onde a levada é bem diferente. Józef destrói no moog enquanto faz a base no piano, acompanhado pela guitarra e bateria. A sequência de duelos de guitarra e moog é infernal, com notas longas e assustadoras, que causam inveja aos admiradores de Keith Emerson, chegando ao solo de Piotrowski.

Com um espetacular braço esquerdo, Piotrowski manda ver em alternações e viradas muito rápidas, intercaladas com batidas fulminantes nos pratos, e com um rufo sensacional, Piotrowski leva para o encerramento da canção, onde Apostólis sola acompanhado por uma cadência fenomenal de Józef e Piotrowski, encerrando a faixa e o LP de forma memorável, aplaudido insanamente pela plateia.

A primeira prensagem de SBB virou um marco na indústria fonográfica polonesa, esgotando rapidamente e batendo recordes de vendas no país. Tanto que no chamado "mercado negro", o preço do LP chegou a dobrar de preço. Vale destacar que em 1997, SBB foi relançado em CD, trazendo o set list completo, com a adição de
"Zostalo we mnie", "Obraz po bitwie" e "Figo-Fago", tornando a versão do CD bem mais atraente que a rara versão vinílica.




SBB em ensaio de gravação do segundo álbum

Após o lançamento de SBB, o grupo seguiu com vários shows pela europa oriental, tocando na Alemanha Oriental, Tchecoslóváquia e Hungria, tendo como marca registrada o baixo distorcido de Józef e a pegada a lá Cream do trio. Nessa época, Józef passa a aprender e admirar um novo instrumento, o moog, de onde começa a criar as canções para o próximo álbum da banda, que começou a ser registrado durante a turnê e participações em programas de rádio polonesas, principalmente nos estúdios da Polish Radio 3. 





Nowy Horizont

Desses registros surge, em 1975, trazendo um som bem mais progressivo e viajante, Nowy Horizont, que agradou em cheio aos já aficcionados críticos especializados, mas desagradou aqueles que esperavam uma sequência do álbum de estreia. Praticamente instrumental, tornando-o um álbum perfeito para admiradores de bandas como Soft Machine e Tangerine Dream, o disco abre com "Na Pierwszy Ogien", onde gongo e moog introduzem a canção seguidos de um tema ao piano. Baixo e bateria passam a ditar o ritmo, para ouvirmos o solo de moog, recheado de intervenções de piano. O tema inicial é repetido, trazendo o solo de Apostolis e o encerramento dessa rápida faixa.

"Błysk" começa com o piano introduzindo uma bonita sequência de acordes. Piotrowski e Apostolis iniciam os trabalhos de quebradeira geral, com o moog solando sobre uma complicada sequência de teclados e guitarra. Os temas começam a se sobrepor, sempre em um ritmo constante, tendo como principal destaque as viajantes notas de moog que Józef distribui nos solos.

O álbum segue com a faixa título, outra que também possui um bonito tema inicial no piano, trazendo moog, baixo e guitarra executando o tema principal. A guitarra começa a dedilhar, enquanto que baixo e moog fazem viajantes intervenções. Com o ritmo comandado por Piotrowski, Józef delira no moog e também no baixo, onde faz um fantástico solo com a marca registrada da banda, a distorção. Moog e guitarra duelam sobre um mesmo tema, até chegarmos em uma viajante sessão onde o tema do moog é completamente estranho. O rufar da bateria é a deixa para uma intrincada sessão de baixo, bateria e sintetizadores, e a faixa se encerra com um interessante tema ao piano. Delírio total!

O lado A encerra-se com "Ballada O Pięciu Głodnych", um tema para piano com a declamação de um poema em polônes por Józef, com viajantes intervenções do moog.

O lado B de Nowy Horizont é dedicado a fantástica suíte "Wolność Z Nami", tomando conta dos 20 minutos de um dos melhores delírios do trio. Moog e bateria introduzem com o tema principal, até o piano entrar e surtar com uma incrível sequência de notas. As interveções percussivas de Piotrowski dão um clima assombroso para a faixa, tendo sempre o piano como o centro das atenções. A segunda parte da suíte surge com vocalizações que acompanham as escalas ao piano, e então, baixo, guitarra e bateria acompanham o solo de moog, por vezes fazendo o mesmo tema ora com a guitarra ora com as vocalizações.

Essa segunda parte é muito bem construída e de extremo bom gosto na minha opinião, principalmente pelas contribuições do piano e do baixo, além das belas viradas de Piotrowski. O ritmo da canção vai diminuindo, até a terceira parte, onde o piano fica acompanhado apenas pelos pratos e as vocalizações. Os gritos constratam com as participações da guitarra e do piano, e a sequência a seguir é indescritível, como que moog e percussão travando uma batalha com os agonizantes acordes da guitarra. A qualquer momento, parece que as cordas da guitarra irão estourar, tamanho é o bend que Apostolis emprega, e então, o moog surge solando sobre a levada da bateria, entrando na parte final, apenas com moog, baixo e bateria diminuindo o ritmo para o piano surgir com o tema inicial. Loucura pouca é bobagem, e essa faixa é a prova disso.

A versão em CD de Nowy Horizont, lançada em 2005, também veio recheada de bônus, contando com "Xeni", "Penia", "Dyskoteka" e "Na Pierwszy Ogieñ". A SBB permaneceu em turnê pela europa oriental, e sem descanso, altamente inspirados em longos temas e abusando de improvisações, o que os afastava cada vez mais da linha bluesy original, encabeçando de vez o predomínio do progressivo, gravam o terceiro LP no final de 1975.





Pamięć.

Em janeiro de 1976, saía Pamięć. É nesse registro que a banda atinge o ápice de suas performances, com peças altamente elaboradas e utlizando de recursos de vários canais para captar os mais diferentes sons, além do emprego de um baixo-sintetizador com os quais Józef produzia sons muito estranhos.

Apenas três longas peças fazem parte do LP, começando com a linda "W kołysce dłoni twych", onde órgão, teclados, pratos e intervenções de guitarra apresentam a faixa. Apostolis sola de forma simples, utilizando poucas notas e o pedal de volume, enquanto a canção desenvolve-se de forma singela e perfeita. A entrada dos vocais de Józef mantém o clima viajante da canção, muito parecida com o início de "Awaken" (Yes), e então chegamos ao refrão, feito com vocalizações, viradas de bateria e a execução de um mesmo tema entre baixo e guitarra.

O órgão e o moog são os destaques a seguir, cujo ritmo é encantador. O moog começa seu solo, enquanto a base de Apostolis é muito interessante. A batida funkeada de Piotrowsky cadencia um novo tema do moog, com vocalizações imitando o tema, entrando em uma magnífica sessão cheia de partes quebradas do piano e da guitarra, com intervenções do moog, que vão crescendo até a guitarra soltar alguns acordes e a canção encerrar na cadência inicial com um belo tema da guitarra e do teclado.

"Z których krwi krew moja" dá sequência ao espetáculo sonoro do lado A, começando com a bonita introdução do órgão, com a slide guitar fazendo um tema acompanhado pelos pratos. Apostolis continua solando, agora sem o slide, fazendo escalas jazzísticas que trazem os vocais de Józef. O ritmo da canção é o mesmo da faixa anterior, com muitas vocalizações e destaque para as intervenções da guitarra. Porém, na sessão instrumental, a doideira toma conta de novo, começando com o duelo de moog e guitarra sobre um dedilhado de guitarra e batidas de pratos. O duelo vai crescendo à medida que acordes de órgão vão surgindo.

Apostolis começa a seguir o ritmo dos pratos, enquanto o moog executa notas acompanhado por viradas de bateria. Essa parte é muito legal, principalmente pelo encaixe do som do moog com as batidas da bateria. Guitarra e órgão passam a fazer o tema anterior, e Piotrowsky solta o braço, mandando ver em um suingado andamento que acompanha o solo de Apostolis. Józef mantém o clima viajante do moog, interferindo com acordes de sintetizadores, entrando na parte final, onde os temas iniciais são retomados, trazendo novamente a letra e o final do lado A.

O lado B é dedicado a viajante suíte "Pamięć w kamień wrasta". Barulhos de vento e tempestade abrem a música, com teclado e percussão sendo adicionados aos poucos. Uma longa sessão com vocalizações, pratos e intervenções de guitarra surge, bem como barulhos de moog imitando pássaros, levando o ouvinte para uma outra dimensão, tamanha a viagem musical dos músicos. Apague a luz do quarto, feche os olhos e entre na viagem com o grupo. Após a longa introdução, guitarra e piano elétrico executam um tema simples, para a bateria surgir acompanhando temas executados por guitarra e moog. Józef começa a cantar a letra, enquanto a melodia da introdução surge no acompanhamento dos vocais, e então, o ritmo lento e cheio de viradas acompanha a sequência das letras.

Entramos então em mais uma sessão instrumental, com solos de Apostolis, usando bastante o pedal de volume, e uma espetacular sequência de duelos de moog e hammond, virando os tradicionais instrumentais do grupo, com guitarras dedilhadas, percussão, solos de moog e a guitarra de Apostolis gemendo ao fundo. A sessão instrumental final é ótima, com uma bela cadência para o interessante solo de Apostolis, encerrando a faixa e o LP com os mais temas de guitarra e órgão, lembrando bastante o encerramento de Hamburgo Concerto, do grupo Focus, levando para os temas iniciais somente com órgão, percussão e o barulho do vento. Espetacular!!

Na versão em CD de 2005, mais luxos para os fãs, com 7 faixas bônus: "Poranek nadziei", "Barwy drzewa", "Osiem rąk", "Waldie", "Niedokończona progresja", "Reko-reko" e "Serenada Gia Sena". O grupo continuou fazendo shows e tocando em rádios, tendo ainda a oportunidade de voltar a ser banda de apoio de outros músicos, ao receber o convite da cantora Halina Frąckowiak para participar do álbum Geira, o qual foi lançado em 1977. Além de Halina, o grupo também acompanhou os cantores de jazz Tomasz Stanko, Tomasz Szukalski e vários outros projetos com orquestras e músicos.

Também em 77 o grupo abria a cortina de ferro, começando a tocar na Europa Ocidental, onde participam de festivais na Alemanha, Itália e França. É a partir destas apresentações que a companhia alemã Aries resolve investir no trio, levando o grupo a excursionar pela Alemanha Ocidental, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, culminando com a banda gravando em novembro de 1977, na cidade de Hannover, o primeiro álbum voltado para o mercado ocidental, Follow My Dream, que foi lançado em 1978 gravadora Spiegelei, trazendo letras em inglês e músicas mais curtas.





Ze Słowem Biegnę Do Ciebie

Antes, saía na Polônia
Ze Słowem Biegnę Do Ciebie, mostrando um SBB ainda mais concentrado em longas suítes, tendo sequências computadorizadas como uma das atrações, mas quem realmente se destaca é Piotrowski, em sua melhor performance.
O lado A é dedicado para a faixa-título, onde órgão e sintetizadores introduzem para a entrada da bateria, do moog e do baixo sintetizado, que aos poucos vão tomando conta da canção. O moog faz solos aleatórios entre camadas de sintetizadores, com o acompanhamento quase robótico da bateria cresecendo suavemente, chegando então ao solo de Apostolis, onde Piotrowski faz viradas espetaculares.

Uma pequena sessão com pratos e programações levam para as letras, entrando em mais uma curta sessão instrumental, com a guitarra dedilhando para formar a tradicional cadência da banda. Józef segue a letra, esbanjando sentimento. Entramos então na longa sessão instrumental que leva ao final da canção, onde baixo sintetizado e bateria fazem as harmonias para os solos de moog e guitarra, dançantes ao extremo, com destaque total para a levada criada por Piotrowski. O encerramento se dá apenas com barulhos de moog, pratos e a guitarra executando algumas notas, em um clima bem new-age.

Já o lado B é dedicado a "Przed Premierą", onde um longo rufar de bateria acompanha as intervenções dos sintetizadores. O tema principal da faixa surge repleto de viradas de bateria, mostrando todas as habilidades de Piotrowski, com a guitarra mandando ver em um delicioso funk que acompanha o solo de moog. O ritmo muda, sempre comandado pela espetacular performance de Piotrowski, que marca o tempo no cymbal para Józef criar seus acordes no sintetizador. Após essa sessão, começa o solo de guitarra, novamente em uma levada bem funkeada, que vai crescendo junto com o solo.

A sequência de temas com moog e sintetizador leva a parte final da canção, onde guitarra e sintetizadores executam notas aleatórias, até surgir um tema repetido apenas pelo baixo. A cadência da bateria comanda a reta final, com várias intervenções do moog, e o sintetizador fazendo a festa, com longas notas sobre mais um tema cadenciado. As viradas de Piotrowski são fenomenais, encerrando a faixa com várias delas em sequência, arrancando um estrondoso rufar acompanhado de um longo acorde do sintetizador. Demais!

A versão em CD de 2005 trouxe apenas uma faixa bônus, a longa "Odejście", que teria algumas partes lançadas no álbum seguinte da SBB.





O raríssimo k7 Jerzyk

 

Após Ze Słowem Biegnę do Ciebie, lançam o extremamente raro cassete Jerzyk, o qual infelizmente não tive a oportunidade de conhecer ainda. Com o lançamento de Follow My Dream, o grupo rompe o contrato com a gravadora polonesa Polskie Nagrania Muza, e passa a fazer gravações entre a Alemanha e a Tchecoslováquia. Nesse período, gravam o segundo álbum para o mercado ocidental, SBB (também conhecido como Amiga Album).




O maravilhoso Wołanie o brzęk szkła

 
Em Praga, foi registrado em meados de 1978 aquele que para mim é o melhor e mais versátil disco do trio, o fantástico Wołanie o brzęk szkła. Apenas duas longas faixas fazem parte do álbum. No lado A, temos a faixa título, introduzindo com o dedilhado de Apostolis, com o teclado sendo adicionado aos poucos, em um suave crescendo. Piotrowski surge com uma lenta marcação, enquando o moog faz algumas notas perdidas.

A canção vai crescendo, agora com a adição de vocalizações que levam a letra. As vocalizações dão um charme especial para a canção, que vai aumentando o pique com as batidas de Piotrowski, que comanda uma cadência repleta de viradas. Józef rasga a voz, cercado pelas vocalizações e intervenções do moog, chegando então na viajante sessão instrumental, onde no ritmo natural da banda, Apostolis começa a solar em um magnífico arranjo progressivo. As viradas de Piotrowski são o principal destaque nessa sessão, e uma delas leva para o segundo solo de guitarra, com uma levada muito rápida, onde o baterista mostra toda a sua técnica.

As intervenções do moog criam um clima de filme de ficção, o que se torna mais evidente com o uso de sintetizadores que simulam uma tempestade de ventos. O ritmo da bateria muda para uma sequência de batidas apenas na caixa, para acompanhar o longo solo de harmônica de Józef, voltando as origens bluesísticas da banda, e as várias intervenções de sintetizadores mantém o viajante clima no ar. As batidas vão aumentando, com o moog tomando conta das caixas de som, sendo o destaque na sequência de encerramento da faixa, com um solo dinâmico e veloz, com sequências e temas de tirar o fôlego. Muito bom!

O lado B é dedicado à "Odejście", onde os mesmos barulhos de vento surgem, acompanhando um bonito solo de violão clássico. Teclados surgem entre as notas de violão e o soprar do vento, e a percussão começa a criar o novo espaço musical da faixa, onde o moog vai ganhando destaque aos poucos. Sem mais o violão, o moog começa a solar, enquanto bem no fundo, acompanhando a percussão, sequências computadorizadas de sintetizadores desfilam, e o climão hi-fi fica no ar novamente.

A entrada do baixo e da guitarra levam ao eixo central da canção, com um tema sendo executado pelas viajantes notas do moog e pelo sintetizador. Guitarra e baixo começam a executar um segundo tema, e a bateria ganha vida para a sessão seguinte, onde o destaque é a precisa sequência de acordes de guitarra e sintetizadores. Vocalizações retornam ao clima hi-fi, onde Apostolis abusa do botão de volume, enquanto Józef executa os mais lindos acordes no órgão.

A letra é cantada com um acompanhameno somente do órgão e dos pratos, com intervenções da guitarra e do moog executando as mesmas notas, chegando a segunda grande sessão instrumental, onde um funkzão a la James Brown comandado pelo baixo sintetizado e a bateria de Piotrowski fazem o ritmo para o solo de Apostolis. A sequência de temas de moog e guitarra abrem a terceira parte da canção, com um acompanhamento nos pratos onde Józef e Apostolis executam notas aleatórias, que vão se sobrepondo até o ápice final, onde sintetizadores, baixo e guitarra fazem o tema para o solo de moog, que encerra a faixa e esse ótimo trabalho.





Versão alemã de Wołanie o brzęk szkła

No re-lançamento de 2004, mais 4 faixas inéditas: "Bitwy na obrazach", "Uścisk w dołku", "Muzykowanie latem" e "Fikołek". Wołanie o brzęk szkła foi lançado em 1979 na Alemanha com o nome de Slovenian Girls, alterando também o nome das faixas para "Julia" e "Anna"

Em 1978, sai o terceiro disco do mercado ocidental, o contestado Welcome, e a banda começa a entrar em descenso. Participam de shows por vários países, tendo destaque a participação no Roskilde Festival na Dinamarca, e o longo tempo nas estradas leva o trio à exaustão, resolvendo então incluir mais um músico, o guitarrista Sławomir Piwowar (guitarras). Assim, lançam seu último álbum em 1980, o interessante Memento Z Banalnym Tryptykiem, com destaque total para a longa faixa título, e que culmina com a turnê de despedida da banda durante o outono daquele ano, com Józef, Apostolis e Piotrowsky indo seguir carreiras solo.





O último álbum da primeira fase do SBB

O grupo acabou se reunindo em julho de 1991, quando foram convidados a participar do festival Trzy dekady rocka w Polsce, na cidade polonesa de Sopot, que infelizmente não mostrou o grupo em uma grande performance. Porém em 1993, o SBB novamente tinha a chance de sair da escuridão, com um convite para participar de um concerto beneficente para as crianças da cidade de Katowice. Como quinteto, contando com o trio original e a adição de Janusz Hryniewica (voz, violão) e André Ruska (baixo), a apresentação foi um verdadeiro sucesso, e o grupo passou a excursionar durante os dois anos seguintes, passando pelos EUA, onde gravam o CD Live In America 94 e encerram as atividades novamente, já qe Piotrowski decide ficar morando naquele país.

Em 98, a SBB retorna aos palcos, tendo Józef, Apostolis e o jovem baterista Miroslaw Muzykant, o qual já havia participado dos projetos solos de Józef. Esta formação fez vários shows, lançando três álbuns gravados ao vivo com composições inéditas e tendo como destaque os duelos de Miroslaw e Apostolis. Porém, após um show em Waltrop, em dezembro de 1999, Miroslaw é despedido de forma um pouco contraditória, com Józef e Apostolis alegando que Miroslaw estava tentando ser o dono da banda. Para seu lugar, é chamado Paul Wertico, ex-baterista da Pat Metheny Group, e o SBB entrava no novo milênio com uma formação fresquinha. 

 
O grupo fez uma celebrada turnê na primaverda de 2001, passando pela Alemanha, República Tcheca e Polônia, e ainda lançou o EP The Golden Harp em 2001. A formação permaneceu estável durante algum tempo,permitindo a realização do primeiro álbum de estúdio em mais de 20 anos, o bom Nastroje (2002). 


Fantástica caixa de 22 CDs


Os anos seguintes foram dedicados à shows e ao resgate de vários materiais perdidos nos armários de Józef e Apostolis, que culminou com uma sequência de lançamento de vários shows do grupo durante a década de 70 tanto em CD como em DVD, além do re-lançamento dos álbuns originais recheados de bônus, como citados no texto. De todo esse material, o mais representativo foi o lançamento da caixa Anthology 1974-2004 pela Metal Mind Productions, o qual contém 22 CDs com toda a discografia da banda e muito material inédito, além de um luxuoso livro contando detalhes da carreira do grupo e também curiosidades sobre as composições e turnês, em uma tiragem limitada de apenas 1000 cópias. A Metal Mind também é responsável pelas ótimas caixas Lost Tapes Vol. 1 (2005) e Lost Tapes Vol. 2 (2006), as quais cada uma contém 9 CDs com muito material inédito.
DVD + CD Behind The Iron Curtain

Em 2005 chegou às lojas New Century, e em 2006, o grupo passou a expandir seus horizontes, tocando no Baja Prog Festival, na Cidade do México, além de servir como banda de abertura do Deep Purple durante a parte polonesa da turnê de divulgação do álbum Rapture Of The Deep. Em 2007, Wertico foi substituído por Gabor Nemeth, e no álbum The Rock (lançado naquele ano), o grupo voltava as origens, trazendo novamente a sonoridade do baixo distrocido de Józef como destaque, o que pode ser conferido no CD + DVD Behind The Iron Curtain, lançado em 2009.

Dentre todos os elogios possíveis ao trio original do SBB, vale ressaltar que o grupo possui uma das histórias mais ricas da música do leste europeu, e que esta sendo escrita até os dias de hoje, com o mesmo vigor, criatividade e dedicação, ainda procurando, quebrando e construindo.

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