domingo, 15 de novembro de 2009

Deep Purple - Marks IV e V


Sem Ritchie Blackmore, a liberdade finalmente voltava aos campos purpleanos. Porém, a ideia de a banda acabar jamais passou pela cabeça de Ian Paice, Jon Lord e companhia. O primeiro nome cotado para assumir a guitarra foi Jeff Beck, que recusou prontamente. Então se mandam para a Califórnia, onde no tradicional Pirate Studio da Columbia Sound Stage começam a ouvirdiversos músicos, sendo que nenhum chamava a atenção.



Convidam então o ex-guitarrista da Colosseum, Dave Clempson, que também havia passado pelo Humble Pie, e que partiu para a Califórnia onde ficou ensaiando com o Purple durante quatro dias. Porém, o próprio Clempson saiu alegando que não se encaixava na proposta do grupo.




Foi então que o nome de Tommy Bolin acabou surgindo na lista de Coverdale. Bolin havia substituído (e com sucesso) nada mais nada menos que Joe Walsh na James Gang Band, além de ter feito uma importante contribuição no álbum Spectrum, de Billy Cobham, e também no excelente Mind Transplant, de Alphonse Mouzon. Na época da saída de Blackmore estava gravando seu primeiro álbum em um estúdio próximo ao do Purple, ao mesmo tempo em que flertava com o Moxy.




Convidado para uma jam, Bolin chocou à todos quando chegou com suas roupas coloridas e um visual muito extravagante. No auge de seus 24 anos era um tímido garoto loiro que ao empunhar a guitarra transformava-se em uma fera indomável. A jam deixou todos no estúdio de boca aberta, com Bolin sendo efetivado no cargo na hora. O mais interessante de tudo é que Bolin nunca havia ouvido uma canção sequer do Purple, mas a harmonia criada com Paice, Lord e Hughes (principalmente) foi como a união do queijo com a goiabada.


Os ensaios com Tommy Bolin saíram em CD em 2000

No início de junho de 1975 surgia então a Mark IV, com o grupo trabalhando intensamente até o final de julho nas composições de um novo material. Os registros desses ensaios podem ser conferidos no CD Days May Come and Days May Go, lançado no ano 2000 através de um projeto de resgate da obra do Purple pela Purple Records. Ali, mostra-se como Bolin conseguiu entrar para o Purple não como um simples guitarrista, mas como realmente um membro do grupo.

O sensacional ao vivo Made in Europe


Em outubro era lançado o esplêndido e fundamental Made in Europe, trazendo uma compilação de músicas das turnês européias de divulgação de Burn e Stormbringer. Um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, com performances impecáveis para "Burn", "Mistreated", "Lady Double Dealer", "You Fool No One" (com um longo solo de Paice) e "Stormbringer".


Em 08 de novembro o Purple voltava à estrada com um show em Honolulu, e no dia 13 fazem uma turnê pela Austrália, Indonésia e Nova Zelândia. Os shows na Indonésia ficaram marcados por inúmeros problemas, principalmente com a super lotação do estádio nas duas noites de apresentação e com a morte do guarda-costas da banda, Patsy Collins, que caiu do sexto andar do hotel onde o grupo estava hospedado. Investigações chegaram a apontar que Collins havia sido jogado por alguém, mas nada foi provado.

O subestimado, porém excelente, Come Taste the Band


Ao mesmo tempo, o novo álbum chegava no mercado. Com o sugestivo nome de Come Taste the Band, é uma das obras-primas do Purple, mostrando ao mundo um novo grupo em relação à Mark III, com muito mais liberdade musical e, principalmente, inovando no estilo de tocar, misturando funk, soul e até jazz. Sete das nove canções traziam a autoria de Bolin, mostrando mais uma vez a importância que o mesmo teve na banda.


A paulada "Comin' Home", com a guitarra cheia de distorção de Bolin e a presença de Lord nos teclados e piano, apresenta um grande som cantado por Coverdale, regado com a slide guitar de Bolin e com as vocalizações de Hughes e do próprio Bolin. Agora, o Deep Purple contava com três grandes vocalistas. Destaque para o solo de Bolin, acompanhado de uma ótima levada criada por Paice, Hughes e Lord.

"Lady Luck" vem a seguir, em uma levada dançante. Os vocais são de Coverdale, e, assim como a faixa anterior, não possui alternância de vocais com Hughes, que se concentrou muito mais em tocar (e bem) o baixo. O solo de Bolin novamente faz uso do slide. Para os ouvidos acostumados com Blackmore, era uma sonoridade bem diferente.

A funkzona "Gettin' Tighter" apresenta Hughes nos vocais. Ao vivo, essa era a peça para as viagens instrumentais, que alcançavam seus 20 e poucos minutos. Em estúdio, conta com uma baita participação de Paice, Hughes e, principalmente, de Bolin, que criou um riff magistral. Para matar, uma sequência instrumental funkeada, entre guitarra, baixo e bateria no melhor estilo James Brown. Excelente faixa!

O lado A encerra com outras duas pérolas. A primeira é a excepcional "Dealer", com outro grande riff de Bolin, mostrando como intercalar uma distorção pesada com slide guitar e criar um funk de primeira para Coverdale mostrar seus dotes vocais, além de ter um excelente refrão e também uma linda passagem com os vocais de Bolin.

A segunda é "I Need Love", outro riffzão não tão dançante, mas bem trabalhado, principalmente pelas intervenções de Bolin e as camadas de órgão de Lord. A sequência para o solo de Bolin é tão simples quanto genial. Lord, Hughes e Paice abrem suas teias de inspiração no funk e na soul music para Bolin apenas brincar de tocar notas e deixar o ouvinte balançando o esqueleto com as vocalizações de Hughes e Coverdale.

"Drifter" abre o lado B com mais um grande riff, e Bolin mandando ver no slide. É incrível como a Mark IV conseguiu unir funk e peso nas mesmas proporções. De novo Coverdale manda ver nos vocais, e Paice é quem se destaca mais, dando uma aula de bateria com variações entre o funk e o rock, executando uma complicada distinção entre cymbals e pratos. O solo de Bolin ocorre sobre um tema viajante, utilizando do volume e do slide sobre camadas de órgão, baixo e bateria, encerrando a faixa com outro riff executado ao mesmo tempo por Lord, Hughes, Bolin e Paice.

O lado B segue com "Love Child" e outro riff imortal de Bolin, acompanhado por Hughes e Lord. A cadência de Paice para esta canção também é complícadissima, principalmente na segunda parte da canção, onde executa viradas perfeitas e também acompanha o solo de Moog de Lord com precisão cirúrgica.

Na sequência, uma lembança da época do Mark I, ou seja, duas canções na mesma faixa. A primeira é a lindíssima "This Time Around". Somente acompanhado por teclados, Hughes toca baixo e canta abusando de variações no clima de sua voz, em uma das mais bonitas canções que já ouvi, abrindo espaço para a segunda canção, "Owed to G", uma instrumental matadora, começando com a bateria de Paice, que executa um belo trabalho acompanhando o tema principal criado por Lord, Hughes e Bolin, tocado durante toda a canção e que serve para Bolin mostrar o porque de ser considerado um dos melhores guitarristas de sua época. Apesar de simples, o solo de Bolin é recheado de feeling, com emprego direto de bends, arpejos e palhetadas inversas.

O álbum encerra com "You Keep on Moving". A entrada dessa canção já dá uma idéia do que virá pela frente. Hughes começa no baixo com o tema principal, seguido aos poucos por Paice no cymbal, Lord no órgão e Bolin viajando na guitarra. Os vocais surgem com Coverdale e Hughes cantando juntos sobre o tema principal, e a canção vai ganhando corpo até chegar no clímax, onde finalmente Paice detona a bateria, com Hughes e Coverdale cantando muito. A parte central da letra é cantada primeiramente por Hughes, seguida por um maravilhoso solo de Lord. A parte central agora é cantada apenas por Coverdale, retomando então ao início da canção, com os dois cantando a letra e encerrando com um magistral solo de Bolin utilizando o pedal de oitavas. Era o ponto culminante de mais um trabalho fantástico e cheio de inspiração, que demorou muito tempo para ter seu reconhecimento por parte da imprensa e até mesmo dos fãs, mas que hoje é analizado com outros olhos, principalmente por ser um dos principais registros da curta carreira de Tommy Bolin.

No dia 06 de dezembro chegam ao Japão para uma sequência de quatro shows. Eram as primeiras apresentações pela Terra do Sol Nscente desde a saída de Gillan, o que causava ainda mais tensão nos produtores e até mesmo em Paice e Lord. O sucesso do Deep Purple entre os nipônicos era tão grande que a gravadora Warner propôs gravar os shows tanto em áudio quanto em vídeo para um lançamento posterior. As apresentações renderam muita fama para o Mark IV, com o Deep Purple praticamente sendo carregado nos ombros pelos produtores japoneses.

O talento de Bolin, bem como seu carisma e aparência, contagiavam as fãs, fazendo com que o Purple crescesse também entre as mulheres. Outro fato interessante é que sete das nove músicas de Come Taste the Band - "Lady Luck", "Gettin' Tigher", "I Need Love", "Drifter", "Love Child", "This Time Around/Owed to G" e "You Keep On Moving" - estavam presentes no set list, sendo que uma vez que outra as duas faltantes ("Dealer" e "Comin' Home") também eram apresentadas. Portanto, era a primeira vez que um álbum recém lançado tinha todas as suas músicas tocadas em um show pelo Purple.

Porém, a amizade entre Bolin e Hughes começou a fugir do lado musical, entrando também pelo lado das drogas. Hughes era viciado em cocaína, enquanto Bolin usava heroína sempre que não estava em estúdio. Antes das apresentações no Japão a barra já começara a pesar. Bolin, que havia ficado todo o tempo de gravação sem injetar heroína, abusou da dose antes da primeira apresentação em Nagoya. O resultado: teve o lado direito de seu corpo paralisado, tendo que subir no palco somente para fazer as bases, e mesmo assim com muita dificuldade.

Três shows depois, já em Tóquio, Bolin deu sinais de melhora, mas mesmo assim não conseguiu fazer no Japão uma apresentação à altura de seu talento. Como Bolin estava em dificuldades de recuperação, a data de Hong Kong acabou sendo cancelada, com a banda entrando no já tradicional recesso de fim de ano.

Em 14 janeiro de 1976 o grupo voltava à estrada, fazendo uma turnê pelos EUA e tendo o Nazareth como banda de abertura. A turnê acabou em 04 de março, sem maiores problemas com o vício de Bolin, partindo então para cinco datas pela Grã-Bretanha: Leicester, Wembley Arena (por duas noites consecutivas), Glasgow e Liverpool.

Foi exatamente em Liverpool que o barco afundou. Bolin novamente abusou, perdendo totalmente o controle de tudo o que fazia no palco durante praticamente todos os shows britânicos, mas em Liverpool ele ficou totalmente imóvel, sem nem consguir ficar em pé, quanto menos segurar a guitarra. Coverdale deixou o palco aos prantos, confidenciando a Lord que estava saindo do Deep Purple.

Sem Coverdale, Hughes também pediu as contas, e assim, Bolin foi oficialmente demitido, com Lord e Paice decidindo dar um ponto final à carreira do Deep Purple em junho de 1976. Bolin lançou o espetacular álbum Private Eyes no final de 1976, mas não pode aproveitar o sucesso do álbum, vindo a falecer em 04 de dezembro do mesmo ano, vítima de uma overdose de heroína. Um dos maiores talentos da guitarra perdia para o vício. Bolin foi enterrado na cidade de Sioux (EUA), tendo em seu dedo anelar o mesmo anel que Jimi Hendrix estava usando quando faleceu, mais uma curiosidade do rock.

Cultuados discos de Hughes e do projeto Paice Ashton & Lord

Hughes foi seguir carreira solo, lançando o magistral Play Me Out (1977) e tendo uma longa passagem por clínicas de recuperação, até se recuperar, integrar o Black Sabbath e seguir uma promissora carreira solo, enquanto Coverdale fundou o aclamado Whitesnake, levando com ele posteriormente Paice e Lord, o qual havia gravado ao lado de Tony Ashton no Paice Ashton & Lord o álbum Malice in Wonderland (1976).

Obrigatórios registros ao vivo da Mark IV

Em 1978 saía Last Concert in Japan, com o registro de algumas canções da turnê nipônica da Mark IV, bem como o vídeo com parte do show no Budokan de Tóquio. O show completo saiu em CD no ano de 2001, também como parte dos lançamentos da Purple Records, com o nome de This Time Around - Live In Tokyo 75, onde pode-se ver que, mesmo com Bolin fora de forma, ele mandava, e muito, na guitarra.

O famigerado "New Deep Purple"


O nome Deep Purple ficou congelado durante três anos, até que em 1980 um retorno do grupo começou a surgir na imprensa especializada. Na época, o fanfarrão empresário Steve Green, dono da Advent Talent Associates, pensou em reunir a Mark II . Ian Gillan foi o primeiro a ser contatado, dando um sonoro não como resposta. Sem ter muito o que perder, Green apelou para níveis mais baixos e foi atrás de Nick Simper e Rod Evans, com a intenção de remontar a Mark I.


O empresário já havia trabalhado com uma falcatrua batizada de "New Steppenwolf", onde dois integrantes que passaram pelo Steppenwolf participavam. A ideia era tentar fazer o mesmo com o Deep Purple. Evans topou na hora, até por estar afastado havia algum tempo dos meios musicais, mas os demais, vendo que era muita pilantragem, recusaram-se a participar da anomalia.

Então, tendo Evans como chefe e contando com Tony Flynn (guitarra), Tom de Rivera (baixo), Geoff Emery (teclados) e Dick Jurgens (bateria), o Deep Purple renascia das cinzas, mesmo com todos os alertas de que a marca Deep Purple já pertencia a Ian Paice e Jon Lord.

Os primeiros ensaios começam a ocorrer no Texas, com a intenção de gravar um álbum e, claro, fazer shows. Assim, várias datas anunciando o retorno do Purple foram agendadas, inclusive contando com o logo oficial do grupo na época. Porém, bastaram os dois primeiros shows para que os fãs e a imprensa percebessem a armação. Além de tocarem muito mal, os integrantes não eram os anunciados, o que deixava todo mundo literalmente p... da vida. No show na Cidade do México, em 28 de junho de 1980, garrafas foram quebradas e lançadas ao palco pela plateia, que gritava insanamente Deep Purple, com o estádio onde fora agendado o evento sendo parcialmente destruído.

Em 12 de agosto, durante uma apresentação em Quebec, Evans anunciou ao público "agora vamos tocar uma do nosso álbum Burn", começando então os riffs de "Might Just Take Your Life" sob inúmeras vaias. Ao final da canção, objetos atingiram o microfone de Evans, que acabou pifando, tendo que a banda improvisar "Wring that Neck" para que o microfone fosse arrumado. O nível do volume das vaias aumentava, até que, quando finalmente o microfone foi arrumado, Evans anunciou: "Agora um clássico do nosso Machine Head, Space Truckin". Foi a gota d'água para um cidadão que estava à frente do Capitol Theatre, que arrancou uma cadeira e a jogou para o palco, passando perto da bateria.

Evans abandonou o palco enquanto a banda tentava terminar o que tinha começado, ao mesmo tempo que mais uma cadeira foi arremessada, desta vez acertando a bateria. A banda saiu do palco sob muitas vaias. Em uma tentativa fracassada, Flynn ainda retornou e gritou que "aqueles que quiserem ver o verdadeiro Deep Purple permaneçam, enquanto o resto que se f...", levando uma chuva de objetos e líquidos desconhecidos.

Com o acontecimento de Quebec, os promotores resolveram mudar a divulgação do show. Assim, em 19 de agosto, na apresentação de Long Beach, o cartaz advertia que nem Blackmore, Coverdale, Gillan, Glover, Hughes (com a grafia errada, sem um n do Glenn), Lord e Paice participariam daquele show.



Em Somersett, Massachussets, foi ainda pior. Apenas 300 pessoas compareceram no estádio local, e ao ver Evans e companhia subirem ao palco, parte deles invadiu a área de proteção tentando agredir os mesmos, com Evans quase sendo linchado antes de escapar pro camarim.


No final, o grupo realizou 13 shows: Amarillo Civic Center (17/05), El Paso (18/05), Laredo (02/06), San Bernardino (21/06), Mexico City (28/06), Phoenix (29/06), Detroit (04/07), Seaside Heighs (20/07), Somersett (10/08), Quebec (12/08), Anchorage (14 e 15/08) e Los Angeles (19/08), sendo o show de Nova York sido cancelado na última hora.

Rod Evans foi processado pelos empresários do verdadeiro Deep Purple por uso indevido do nome, bem como pela empresa responsável pelo estádio Ciudad de Los Deportes no México, tendo que pagar 672.000 dólares no resultado final e perdendo os royalties dos discos em que participou com o Deep Purple. Hoje em dia seu paradeiro é obscuro, com citações até de que se formou em medicina e exerce a profissão na Califórnia, mas o certo é que nunca mais voltou para o mundo da música. Outro grande talento que acabou se estragando de uma maneira não convencional.

O ótimo ao vivo Live in London


Seguindo o barco, em 1982 saiu o registro Live in London, trazendo uma fantástica apresentação da Mark III na Inglaterra durante a turnê de Burn, contando com "Burn", "Might Just Take Your Life", "Lay Down Stay Down", "Mistreated", "Smoke on the Water" e "You Fool No One", ficando de fora apenas "Space Truckin'". Já em 1984, após muita especulação, a Mark II emergia novamente com o disco Perfect Strangers, lançando ainda House of the Blue Light em 1987.


Porém, o clima entre Gillan e os produtores do Deep Purple não andava nada bem, assim como novamente a tensão entre ele e Blackmore voltava à tona. Pouco antes de um show em Verona (1988), uma brincadeira com Blackmore (colocaram catchup no molho do spaghetti do guitarrista, que odeia o tempero) fez com que Blackmore, indignado achando que Gillan era responsável por tal atitude, jogasse o prato com o molho na cara do vocalista, com a situação quase terminando em pancadaria.

Após Verona lançam o ao vivo Nobody's Perfect, e mais um problema surge. Gillan queria trabalhar em um material novo, enquanto o resto da banda preferia dar uma descansada. Resultado: Gillan foi demitido através do management do Purple e também dos demais membros no início de 1989.

Em busca de um novo nome, aceitam a indicação de Blackmore para que Joe Lynn Turner (ex-parceiro de Glover e Blackmore no Rainbow) substituísse Gillan. Claro que Joe entrou principalmente pelo fato de que Blackmore fez o famoso discurso "ou é ele ou eu tô fora", já que havia o medo de o Deep Purple virar o Rainbow. E essa foi a reação mundial com o anúncio oficial de Joe como novo vocalista do grupo, em janeiro de 1989.

O controverso álbum Slaves and Masters


Durante o ano compõem material para o novo álbum, gravado em 1990. Em outubro chegava às lojas Slaves and Masters, um disco que não é tão ruim de um ponto de vista geral, mas é muito fraco perto da obra do Purple.


O álbum abre com a introdução soturna de "King of Dreams", com Glover e Paice fazendo uma batida no estilo hard farofa para acompanhar os vocais de Joe e a guitarra de Blackmore, com um refrão bem grudento, como manda o figurino das canções daquela época.

"The Cut Runs Deep" traz uma longa introdução com Lord e Blackmore executando o riff principal. A entrada de Glover e Paice lembra bastante a fase comercial do Rainbow, com os viajantes vibratos de Blackmore, que também executa um solo interessante, seguido por um também interessante solo feito por Lord.

Um riff muito similar ao de "Wring that Neck" introduz "Fire in the Basement", considerada por muitos a melhor canção da Mark V. Um bluesão parecido com muito material feito pela Mark II, com o refrão lembrando "Highway Star" e "Lazy" e com bons solos de Blackmore e Lord.

A balada "Fortuneteller" encerra o lado A sem muitos destaques, onde Blackmore é o dono da bola, do campo, das traves e ainda diz as regras, comandando a guitarra em mais um som comercial.

O lado B abre com um riff característico de Blackmore em "Truth Hurts". Lord e Blackmore resgatam as harmonias construídas na faixa "Perfect Strangers", mas, infelizmente, a sonoridade nesta canção não ficou boa, soando muito comercial.

"Love Conquers All" apresenta as cordas comandadas por Jesse Levy, introduzindo o dedilhado de Blackmore. Uma das baladas mais chorosas do Purple, porém sem atingir os picos de "When a Blind Man Cries", "Mistreated" ou "Soldier of Fortune".

Pulando para "Breakfast in Bed", temos sintetizadores e um instrumental que lembra o Aerosmith do final dos anos 80, com destaque para o solo de Blackmore utilizando slide guitar. "Too Much is Not Enough" possui uma marcação no cowbell e muitas vocalizações no refrão, e o álbum encerra com "Wicked Ways", com sua melodia simplista típica dos álbuns comerciais do Rainbow, onde Joe canta como Sammy Hagar (com o perdão da comparação), e tendo ainda um solo de Blackmore acompanhado por cordas.

No dia 19 de novembro a Mark V estreava no programa de rádio Rockline, na verdade contando apenas com Glover e Joe em uma versão acústica de "King of Dreams". Já em 23 de janeiro de 1991 começa a Slaves and Masters World Tour, com o grupo passando por lugares ainda desconhecidos, como Croácia, Tchecoslováquia, Polônia, Israel, Tailândia e Cingapura, além dos tradicionais Inglaterra, Estados Unidos, França, Itália e Alemanha.

Foi nessa turnê que o Brasil teve a primeira oportunidade de ver o Deep Purple ao vivo, durante o gelado agosto de 1990, com quatro shows em São Paulo (16 e 17, 19 e 20), um em Curitiba (18), Porto Alegre (22) e Rio de Janeiro (24), onde uma atitude infeliz de um fã de Gillan causou muita revolta por parte principalmente de Blackmore (o cidadão jogou um rolo de papel higiênico na cara de Joe enquanto gritava "Gillan, Gillan"). Um detalhe importante na turnê era a inclusão de "Burn" como música de abertura, o que com Glover no baixo e sem Hughes nos vocais realmente não ficou muito legal, como pode ser conferido em alguns bootlegs da época.

A turnê se encerrou em 28 de setembro, na cidade de Tel-Aviv, com as vendas de Slaves and Masters muito aquém do esperado, apesar de "Fire in the Basement" ter alcançado a vigésima quinta posição nos charts da Billboard e "King of Dreams" ter chegado em sexto.

Com os 25 anos de idade do Deep Purple se aproximando, era impossível que a Mark II não voltasse à ativa, e assim Joe foi demitido, seguindo uma carreira solo de não muito sucesso, participando ainda, ao lado de Glenn Hughes, do Hughes/Turner Project, que lançou três bons discos: HTP, Live in Tokyo e HTP 2. Gillan volta e grava mais dois álbuns: The Battle Rages On (1993) e Come Hell or High Water (1994).

Deep Purple versão 2009


As brigas voltaram a aparecer, e quem saiu foi Blackmore, indo remontar o Rainbow e seguindo carreira ao lado da esposa Candice no Blackmore's Night, sendo então substituído por Joe Satriani (Mark VI) e posteriormente por Steve Morse(Mark VII). Hoje o Purple se mantém na ativa tendo Don Airey no lugar de Jon Lord, além de Morse, Gillan, Paice e Glover (Mark VIII), apresentando novos e velhos sucessos, principalmente da Mark II.


Resumo da ópera: o Deep Purple tem uma história longuíssima e, principalmente, muito influente. Praticamente todas as bandas de rock mais conhecidas pelo ouvinte de som tem alguma ligação direta ou indireta com o nome Deep Purple, desde Black Sabbath e Led Zeppelin até mesmo os brazucas Los Hermanos e Mutantes. Das veias do Purple surgiram nomes fortes do rock mundial, como Whitesnake, Rainbow, Captain Beyond, Warhorse e Blackmore's Night, sem contar o trabalho feito com a Purple Records em busca de revelações, como o Judas Priest e o Nazareth.

Sem dúvida, a Mark II é a mais importante formação da banda, mas as demais, de uma forma ou de outra, colaboraram, e muito, para que o som do Deep Purple permanecesse vivo entre os fãs até os dias de hoje.

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